quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Westworld - O lugar onde ninguém tem alma [Crítica]


    Vou te dar uma pequena situação, e em troca você me dará uma resposta: Você está sentada numa mesa, descansando depois de uma longa semana de trabalho. Mas enquanto você admirava aquela bela praia a sua frente, uma pessoa a sua esquerda domina sua visão. Você vê ali uma figura extremamente bela, que te atiça da ponta do pé até seu último fio de cabelo. A pessoa de seus sonhos, bela como nos sonhos, sensual como nos sonhos. O que você faria?   Guarde a resposta por mais algumas palavras por favor, já, já retomo ela.
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      Westworld é um filme da década de 70, que provavelmente você só conhece pela nova série da HBO, não se envergonhe, também só conheci pela série. O filme original tem como conceito... Quem quero enganar, você não estaria aqui se não soubesse, certo? Por isso vou introduzir o mais breve o possível, sinta-se livre para pular.  O enredo gira em torno de um parque de diversão que situa seus visitantes em três diferentes espaços: Um medieval, um romano e o principal, o Velho-Oeste dos E.U.A. O que seria apenas um passeio de verão no parque logo se transforma num show de horror, quando as máquinas que deveriam servir os visitantes passam a mata-los. Passado essa introdução inútil e rasa, vamos para o que importa de verdade


        Westwolrd pode ser dividido em 3 partes: A primeira que introduz o telespectador ao parque, a segunda na qual os robôs começam a apresentar defeitos, e a terceira em que os robôs realmente passam a matar e perseguir as pessoas. Dividir o filme assim, além de facilitar minha vida, mostra claramente a diferença de tom do filme; com a primeira e segunda parte sendo uma aventura de ficção-científica e a terceira um filme de terror si-fi.

         Na primeira parte do filme percebemos o por que ele se tornou tão relevante ao ponto de merecer uma série anos depois, uma forte crítica social. Lembra daquela situação que criei no início da crítica, então, vamos retoma-la. Segundo Westworld o desfecho dessa cena vai depender de quem você está cercado nesse momento de tranquilidade. Está sozinho? Veio com seus amigos? Namorada/o? Parentes? O conceito do filme gira justamente em como nos tornamos animais em um ambiente sem regras. Se você estiver acompanhado sua companheira, provavelmente não vai se dar nem a oportunidade de pensar naquela linda pessoa; com os amigos talvez até comente algo. Mas e se estiver sozinho? Se não houver ninguém pra te julgar? Se não houver nada nem ninguém para te impedir de falar com aquela figura? Westworld vai explorar justamente essa questão.
          Colocar as pessoas em um cenário tão sem regras quanto "Mad Max", dá liberdade para as pessoas. No Velho-Oeste, que é tão popularmente conhecido por não ter regras, os prazeres proibidos ganham forças. Matar, beber e transar são praticamente os mandamentos por aqui. Sem aqueles grandes olhos da sociedade na suas costas, você se torna livre. Mate uma pessoa! Estupre alguém! Ninguém vai te impedir, e alias, essas pessoas não passam de robôs insensíveis! Sabe a moça que roubou sua atenção, então, ela está aqui pra te servir, fará tudo o que você pedir. "T-tudo mesmo?". Tudo mesmo meu camarada...

           Já a segunda metade do filme questiona se esses robôs realmente não tem alma. Quando um possível vírus de computador (Um conceito mega avançado pra época), dá as máquinas a possibilidade de julgar e lembrar, aí sim esse cenário sem regra vai pro saco. E é assim que entramos no terceiro momento do filme, no qual os robôs decidem se revoltar, tomando controle de si próprios. Motivados por um desejo mais que humano como a vingança, as máquinas quebram a primeira lei de Asimov, e a matança é livre.

            Por enquanto tudo é lindo em Westworld, uma obra-prima se analisado da forma anterior. Mas é aí que nascem os problemas. Essas questões filosóficas e críticas aparecem de maneira muito sutil no filme, e facilmente passam despercebidas. Muito além disso o filme peca muito em sua direção. Algumas cenas são horríveis, como a cena da briga no bar, na qual tanto a atuação quanto a música são grotescas, perdendo todo o sentido de criticidade da cena. A terceira que se tornaria excelente por uma boa sequência de horror, logo se torna idiota por um final muito vago.

             São pequenos erros de estrutura que condenam o filme, o que é uma pena, já que ali havia tamanho potencial. Pelo menos a série do HBO até o seu terceiro episódio vem mantendo um alto padrão, adentrando muito mais profundamente nas boas questões, e arrumando os erros de seu antecessor. Então retomo mais uma vez a questão, que agora toma ares muito assustadores. Naquela situação, a ação que você tomou, seria a mesma se você estivesse em Westworld?