sábado, 3 de setembro de 2016

[Contos de Juliete] Filhos do Átomo - O Real Final

Bela está dormindo do meu lado quando acordo. Coitada, esses últimos dias devem ter sido bem confusos pra ela... Não só pra ela na verdade. Tudo isso que vem acontecendo me fazem... não sei... ficar aqui na cama pra sempre talvez. Pelo menos essa noite de sono foi boa, precisava urgentemente disso.
   Já vestida, Ororo me leva até a cozinna para tomar um café (outra coisa que preciso urgentemente). Enquanto percorremos os grandes corredores da mansão, reparo em seus detalhes: Os quadros na parede retratam em sua maioria jovens entre 14 a 17 anos, a maior parte dos quadros são das mesmas pessoas; um grupo de amigos composto por um menino de pés e mãos incrivelmente grandes, outro vestindo diversos casacos de frio, uma menina ruiva e um último garoto que sempre está de óculos escuros avermelhados. Outra coisa que desperta atenção é o vazio da casa, embora haja diversos quartos, não vi nenhuma alma viva desde que acordei. Quando chegamos na cozinha encotro o primeiro habitante da casa: Uma moça ruiva, que lembra muito a menina dos quadros... e... e estranhamente ele me lembra de uma outra moça... ruiva também... DEUS! É a mesma moça que atacou Bela e eu! Rápidamente seguro o braço de Bela e coloco a mão no coldre da minha arma, a pena é que diferente dos filmes eu não tenho arma nenhuma:

  -Policial Juliette! Por favor levante suas mãos até onde possa ve-las! Sem movimentos 
bruscos!
  -Calma policial, não vou te machucar.
  -Senhorita, peço para a senhora obedecer minhas ordens agora!
 -Juliette, ela é...
 -Calma querida, eu cuido disso.
 -Por favor policial, não faça isso ficar tão embaraçoso para você.

Olho rapidamente para todos os lados da cozinha em busca de uma faca. Encontro uma em cima da mesa perto de mim, mas não perto o suficiente.  Tomo fôlego e me preparo para pegar a faca. 1... 2... 3... Pulo em direção a faca o mais rápido possível. Minhas pernas não me acompanharam, apenas minha mente pulou. "Mas que merda é essa!" "Acalme-sse Juliette, tudo vai ficar bem. Sou sua amiga" A voz dela ecoa em minha mente. "Que porra é essa!" "Calma Julliette, paralisei seu corpo apenas para evitar que você faça qualquer coisa errada". Meu deus o que essa moça fez comigo! Júlia. Pera, o que foi isso? Júlia, esse é meu nome. Mas o que diabos está acontecendo! Por favor Juliette, sou sua amiga. Esses pensamentos, e-eles não são meus! Não, eles são meus. Entrei rapidamente em sua mente. C-como isso é possível?! Isso não é humano! Eu tenho poderes Juliette, vejo em sua mente que já conheceu diversas pessoas como eu. Você é... É como o Clark? Mais ou menos, ele é um alienígena enquanto sou apenas uma humana com poderes. Aquele homem que estava com você. Scott. Sim, ele também é que nem você? Temos poderes diferentes, mas sim, nos dois somos humanos que nasceram com poderes:

  -Juliete! Juliete cê ta me ouvindo! Ei! Fala comigo pufavô.

  As palavras de Bela me despentam do transe. Enquanto caio de ajoelho, passo a mão nos seus cabelos e digo:

 -To sim querida, só estava... conversando com a Júlia.
 -Ah! Ela fez aquele lance da mente com você também.
-Sim, ela fez sim...

Encaro um pouco os olhos azuis de Ororo e percebo uma coisa:

 -Por que... Por que você e seu amigo estavam caçando Bela.
 -Nós não estavamos caçando ela! Nós estavamos...
 -Perseguindo ela. Assustando ela!
 -Ei calma aí! Não concordo com o jeito que agimos quando achamos vocês duas, peço desculpa por aquilo. Mas nós só estavamos com pressa pra trazer Bela para a mansão.
 -Por que?! Ela só tem 8 anos, não precisava ser assustada daquela forma!
 -Juliete, achei que nós já tivessemos nos entendido.
 -Só por que você entrou na minha mente não quer dizer que somos amigas, na verdade... Você invadiu minha privacidade!
 -Ha! Como se você não tivesse feito isso com sua amiga!
 -O que diabos você disse moça! Continuo sendo uma policial que pode te prender!
 -Ah de novo não. Pelo amor de deus, já tivemos essa conversa. Desculpa ter citado aqui...
 -Como você sabia?! Como você sabia sobre a Anna?!
 -Desculpa. Desculpa mesmo Juliete. Não quis ler sua mente, mas você tava tão agitada.
  -O que mais você pode fazer?!
  -Posso ler mente, contro...
  -Por que você foi atrás da Bela?!
  -Por que ela também é uma mutante.
  -Que? Ela também lê mentes?!
  -Não. O poder dela é diferente, ela controla o tempo.
  -Como assim. Ela pode voltar no tempo?
 -Não, perdão, ela controla o clima. Ela pode fazer chover chover quando ela quiser por exemplo.
 -Pera... Aquela tempestade que teve alguns dias atrás...
 -Bela.

Deus. Essas pessoas são extremamente loucas! Achava que apenas Clark tinha poderes, será que Selina também é uma... uma mutante? Não dúvido muito, aquela agilidade dela é sobre humana. Mas essas pessoas, esses super-heróis, são muito poderosos! Quantas pessoas não devem ter morrido durante aquela tempestde! Tudo por causa uma menininha de 8 anos! Alguém precisa controlar essas pessoas. Lidera-las, ser o guia delas! Antes que mais alguém se machuque:

  -Essa pessoa existe Juliette.
  -Você está lendo minha mente de novo?!
  -Desculpa, mas meus poderes estão meio descontrolados desde minha última missão no espaço com os Homens X.
  -Homens X?
  -Sim, é a nossa equipe de mutantes que protege outros mutantes do preconceito. Nosso líder é o Professor Carlos, ele saiu faz pouco tempo, mas estava bem ansioso para falar com você.
  -Esse professor... Ele comanda vocês?
  -Sim, ele nos ajuda a controlar nossos poderes.
Preciso fazer o relatório disso tudo agora! A comissária vai me promover agora mesmo quando ver isso tudo! Vou sugerir uma lei, uma lei de regulação desses super-heróis. Eles são poderosos demais para andar livremente sem um professor. Essa Jean parece ser uma boa garota... Vou ficar mais um tempo aqui até o professor chegar, depois levo Bela pra vir morar comigo, ela é muito nova pra essa loucura toda.

  Passo a tarde escrevendo o relatório de missão. Não esqueço um detalhe só. Enquanto escrevo penso nas palavras de Jean: proteger mutantes do preconceito. Eles sofrem o mesmo preconceito que sofri naquela igreja hoje. O mesmo preconceito que me fez tanto vir para São Paulo. Escrever esse relatório, essa lei, talvez não vá ajuda-los de verdade. Expo-los ao público pode só aumentar esse preconceito! Mas... isso significa que essa última semana, eu ter invadido o comutador da Anna, ter perdido todas minhas chances com a Luna, ter faltado tantos dias do emprego, vão ter sido atoa... tudo atoa... Enquanto penso vejo Bela brincando do outro lado da sala com outra criança da casa, uma tal de Kitty. Tão calma e feliz ela brinca como se não houvesse amanhã. A pureza de seu sorisso... Meu Deus Juliette... O que está acontecendo com você. Arrasto todos os arquivos para a lixeira. "Deseja esvaziar sua lixeira?" Sim...

...

   O Professor chega por volta das 11, já tinha posto Bela para dormir. O Professor, negro e com cabelos curtos e escuros me convida até sua sala. Passo a noite conversando com um dos homens mais inteligentes que já conheci na vida. Ele me explica todo o ideal da mansão e seu sonho de paz e igualdade. No final fico convencida que fiz bem ao deletar o relatório, dou minha palavra que nunca falarei com nínguem sobre. Infelizmente o Professor também me convece a deixar Bela na mansão, tento rebater a ideia, mas é inúltil, ele me mostra que aqui ela terá suas amigas além de aprender desde cedo a controlar seus poderes. Argumento que posso leva-la diariamente para a mansão como se fosse uma escola normal e que ter alguém cuidando dela como uma mãe seria bom. Mas quase que iracionalmente sou convencida a deixa-la, como se não hovesse qualquer outra possíbilidade para eu ficar com ela; pelo menos vou poder ve-la toda semana.

    O Professor me deixa ficar mais um dia na mansão com Bela antes de partir. Assim que me despeço dela, desço as escadas e me deparro com Júlia:
  -Então você já vai?
  -O Professor me mata se ficar mais um dia aqui. Ele é muito inteligente, mas por algum motivo tenho um pouco de medo dele.
 -Engraçado, Scott disse o mesmo outro dia...
 -É... Jean, eu queria te perguntar uma coisa...
 -Ah! Você pode me perguntar o que quiser.
 -E-eu... ah deixa pra lá.
  - Você sabe que tem que me perguntar isso agora né?
  -E-eu... Se você poderia...
  -Poderia?
   Desde que conheci a Júlia eu penso sobre isso. Tudo o que fiz nessa última semana me levou a isso, sei que posso me arrepender, mas...
 -Você pode apagar minha memória?
 -Que?! C-como assim?
 -Esses últimos 3 dias aqui foram uns dos melhores da minha vida! Parece que tudo que procurei em São Paulo estava escondido aqui dentro, lá fora só há o lado triste da cidade! Por isso eu queria poder...
  -Deletar o lado triste do mundo.
   -Assim parece que quero viver só a parte boa da vida!
  -Mas foi isso que você acabou de dizer!
 -Não eu... Eu vim pra São Paulo procurando o sonho que minha prima me deu, mas quando chegei aqui só tenho percebido que esse sonho é apenas parte da verdade. Só queria ter uma rotina normal, sem todos esses problemas que enfrento todo dia!
  -Juliete...

  Ela me abraça:

 -Querida se eu fizer isso, você vai pedir para eu fazer o mesmo daqui um ano. Nossa vida é conturbada assim mesmo, tem muitas partes difíceis, mas são elas que fazem as partes fáceis serem tão boas.
  -D-desculpa. Não devia ter pedido isso.
  -Foi bom você ter falado, vai que você cometia uma merda por aí.
  -O-obrigada. Você deveria escrever auto-ajuda.
  -Lá tenho car de Paulo Coelho por acaso?!
  -He... Bom, semana que vem eu volto.
  -Legal, não vai faltar, Bela iria ficar muito chateada.
  -É Bela... Tchau Paulo Coelho.
  -Tchau policial.

  O preço do táxi por me levar de volta pra casa é uma das minhas menores preocupações, mas não há problema, vou viver com elas... espero...

                                                       Contos de Juliette: Filhos do Átomo
                                                                                    Fim

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