quarta-feira, 9 de março de 2016

Filhos do Átomo - A Tempestade - Parte 2 [Contos de Juliette]

                                                               Parte 1

     Meu cérebro se espreme em meu crânio, os dois batalham com brutalidade, e a cada soco minha dor de cabeça piora. A batalha cessa somente quando Anna sugeri ir ao fim do universo, lá encontraremos a lanchonete dos Cages; o ambiente é assustador, a comida gera asco se você pensar muito no que está comendo e o café é bem gostoso na verdade. Mas não por um gole de café que gosto de ir lá, nem pelo fato de policial ganhar um desconto lá:

         -Mas que merda de dia heim Guria? Acho que vou ter que tomar uns cem cafés para me recuperar.
         -Minha cabeça arde que nem fogo.
         -Imagino, depois daquele ato heroíco seu hoje. E não me entenda mal, sou totalmente contrária ao que você fez hoje, você deveria ter avisado os bom...
         -Deus, Anna! A menina ia morrer afogada se não tivesse decido lá!
          -Vocês duas iriam morrer afogadas! Mas deixa quieto, depois faço meu marido te dar lição de moral.
           -Por que? Ele é tão paizão assim?
           -Paizão?! Ha! Ele deve ser o paizão dos paizões. Uma vez eu me cortei enquanto cozinhava, ele me forçou a ir ao hospital para ver se não era um corte profundo, depois deu sermão para eu ser mais cuidadosa na cozinha.
   Enquanto conversava com Anna meus olhos enloqueciam, procuvavam por todo restaurante a garçonete. Minha parceira logo percebeu minha inquetação e comentou:

              -E ai... Vai ser hoje que você vai chamar ela pra sair?
               -Chamar quem?! Que conversa louca é essa!
               -A garçonete, qual o nome dela mesmo? Aquela de cabelo azul.
          -Por que diabos iria chamar ela pra sair?!
          -Nem tenta verdinha, sei que você ta toda gamadinha nela.
           -Não to não!... e é Luna o nome dela.
            -Viu! A gente vem aqui todo dia mais de um mês, e você sempre fica babando pra ela. Parece até uma adolescente.
            -Só por que sei o nome dela não quer dizer que goste dela!
            -Sei. Então vamos fazer o seguinte: Você chama ela pra sair hoje a noite.
             -Por que faria isso se não gosto dela?
             -Por que não faz diferença, se você não gostar dela O.K, você só vai ter um encontro com uma pessoa qualquer. Se você gostar dela, perfeito!
              -E-Eu não sei...
              -Para com isso guria! Se ta com tanta vergonha eu mesmo faço. Com licença moça!

    Anna acena para uma moça da minha idade com lidos e curtos cabelos azuis, vestindo  um uniforme de garçonete rosa listrado típico da década de 50; ela pede que esperemos um pouquinho que já vai atender seu chamado:

                   -Anna isso é loucura! E se ela não do tipo... cê sabe, se ela não gostar de meninas?!
                   -Ai teremos um problema, e seria muito embaraçoso. Mas e se ela gostar?
                   -É um "se" muito arriscado Anna!
                    -50 - 50, não custa tentar.
                   -Oi, bom dia. No que posso ajudar as senhoras?
                   -Bom dia. Querida, você pode me trazer dois cafés, um sonho e responder uma perguntinha de minha amiga aqui.
                    -Cacete Anna
                     -Ahh... perdão, acho que não ouvi a pergunta. Poderia repetir?
                     -Qual é a pergunta mesmo Juliette?

   Meu rosto se avermelha como sangue, e minha garganta fica seca como o sertão. Tento inutilmente me esconder atrás de meus cabelos verdes, mas sei que a única maneira de sair intacta daqui é falando. Abro a boca repetidas vezes, mas minha lingua se acorvadou e se recusa a liberar as palavras. O silêncio combinado ao olhares delas corroi meu corpo, alguém fale por favor:

                    -O que minha amiga queria te perguntar era se você gostaria de sair com ela hoje a noite?
             Minha cabeça explode com a frase, agora meu corpo inteiro está vermelho não só minha cabeça. Mas não fui a única a se chocar com a pergunta, a garçonete se assustou com tudo no inicio, depois coçou a cabeça com a ponta da caneta que ela usava para anotar os pedidos, e com um leve risinho disse:
             -Hoje a noite? Perfeito! Meu turno acaba ás sete, pode ser por volta desse horário?
             -P-pode... Mas... Mas eu não dirijo.
             -Sem problema, a gente pega um taxi ou sei lá. Só esteja aqui nesse horário tudo bem?
              -Certo.
                                                                                     ...

   Depois da lanchonete, Anna estava cansada demais para trabalhar e resolveu continuar o resto do expediente em casa no computador. Ela me sugeriu fazer o mesmo, que agora que a tempestade já acabou os bombeiros conseguem tomar conta de tudo. Até tentei fazer isso, mas assim que chegei em casa precisei sair de novo. Estou muito agitada por culpa de hoje a noite, tenho que me mover um pouco.
        Decidi fazer uma visita a Ororo, sei que não faz muito tempo desde que a vi pela última vez mas sinto que devo ir visita-la. Pego um taxi até o orfanato, e assim que chego peço informações a balconista:

           -Oi, bom di..
           -Boa TARDE!
           -Ahh, boa tarde... Sou Juliette de Aurora e queria visitar uma criança.
   A balconista idosa e bem acima do peso masca seu chiclete duas vezes, digerindo junto com ele a minha pergunta, depois ela se estica com muito esforço para me ver completamente:

           -Você é parente?
           -Não, sou apenas uma amiga.
           -[masca chiclete] Amiga de uma criança?
           -É, mais pra conh...
            -Eu não ligo. Qual é a criança?
            -Não sei ao certo seu no...
       -Então também não sei ao certo a criança.
        -Chamavam ela de Ororo, mas deve ser apenas um ape...
         -Eu não ligo como chamam ela. Só quero um nome.
          -... Procure por Ororo por favor, ela deve ter por volta de seis anos, negra com cabelos brancos.

      Ela solta um suspiro mostrando como a tarefa de digitar um nome no computador é árdua para ela, mas claro que ela masca um chiclete antes de encarar sua missão impossível. Demorando apenas 30 minutos ela me vem com o resultado da complexa busca:

        -Ela não está aqui.
        -Desculpa mas acho que não enten...
        -Quer que eu desenhe? Ela, sua amiga de seis anos, não, contrário de...
        -O.K! Já pegei a ideia. Você pode me dizer por que ela não está aqui?
       -Sei lá garota! Eu tenho cara de enciclopedia agora?! Não tem nada no registro, só que ela mudou. Pergunta pra diretora ou sei lá quem, não me importo.

      Com um falso sorriso me dispeço da mascadora de chicletes e começo uma nova busca pela diretoria. Deus... Que mulher mais chata, custava ela ao menos me apontar aonde está a diretoria?! Quando chegar lá vou reclamar muito com a diretora sobre a mas... Meu telefone toca; é a Anna, mas agora não. Encontro a diretoria, mas a porta está trancada; passo um bom tempo esperando alguma explicação divina, mas não foi Deus que avisou que a diretora saiu hoje cedo e não vai voltar, foi o Zelador.
        Será esse o meu glorioso primeiro caso? Um caso digno de uma investigadora, que vai colocar o meu nome lá no topo. É só eu resolver ele que eu subo de ní... Anna me liga de novo. Dessa vez respondo, mas só aviso que estou em casa me arrumando... Desculpa Anna mas preciso resolver isso sozinha...

                                                      continua

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