sexta-feira, 28 de julho de 2017

Um estudo melancólico de objetivo incerto

 "O amanhã, o amanhã, o amanhã avança em pequenos passos, de dia para dia, até a última sílaba da recordação e todos os nossos ontens iluminaram para os loucos o caminho da poeira da morte."

    Não há brisa marinha. Não há cantiga de pássarinhos. Não há sorridentes raios de Sol. Nem ao menos há o frio e triste ar sueco. Não há nada. Há apenas um quarto escuro, com uma cama de vermelho lençol arrumado. E de tudo que não há, o mais incerto é minha presença.
      Amaras invisíveis prendem minhas mãos. Meu corpo atado ao nada, minha mente... livre de tudo. Minto. As paredes ao meu redor são tênues vêus, deixam tudo entar, mas apenas o nada a de ficar.


Quero ir
preciso ir
me deixe ir
por favor,
tenho medo
muito medo



         Meu corpo não queima em ácido como em filmes B, muito menos sofro de crises como a de Pixote, o que sofro?

         Será talvez minha angústia a de Feline em sua Doce Vida? O luxo do luxo. Atarme hei a luzes sem brilho. Imito insetos e vôo por entre joias reluzentes, pouso em carnes atraentes e as beijo com minha língua fétida, habito casas estranhas no topo de montanhas, projetos arquitetônicos que nada servem além de orgulho. Falho. Nem ao mesmo asas tenho. Joias de luz morta. Trago-lhe flores mortas em um ato de poesia. Amor ou desespero de ser visto?

       Será meu pesar próximo ao de Terence Malick?  A vida sequênciada. Imagens e imagens, cada uma lutando para se manter viva de forma única. O excesso poético. "Sou eu quem mais brilho" dizem todas. Meros devaneios mortais, com o único pé temporal o necessário final. Mas não se apresse, pouco importa a beleza, pouco importa a emoção, ou a completa falta dela, tudo há de se acabar.

            Será minha dor a frustação de Kurosawa?  Frusto por não saber como viver, chego até a temer, ter raiva. Devo lutar sabendo que devo falhar? Defendo a quem? Eles? Mas quem são eles? Ingratos, todos? Veja como sorriem para mim, desconfio de quem seria o cuspe em minhas costa. Minha espada, corta sua carne. Sua máscara, corta minha alma. Para a vitória deles devo ajoelhar na lama de sangue. Honra é como chamam. A cántigos eufóricos de um recém liberto povo, choro ante o túmulo sangrento de meus irmãos.
...
"Apaga-te, apaga-te, fugaz tocha! A vida nada mais é do que uma sombra que passa, um pobre histrião que se pavoneia e se agita uma hora em cena e, depois, nada mais se ouve dele"
...

           Por que tanta dor? Por que ao redor de eras nossa única ligação é o pesar? Lembro-me de um ditado Tao "A dor é a única constante universal", não me lembro do autor, acho que nunca soube quem forá.

     Quantas dores existe no ser?

A dor da solidão contrastada de "Lost in Translation"
A dor do moinho de sonho que é a vida em "Abismo de um sonho"
A dor confusa de "Sétimo Selo"
A dor opressiva de "Deus e o Diabo na terra do Sol"
A dor romântica de "Girassois da rússia"
A dor bruta de "Amarelo Manga"
A dor oculta de "A liberdade é azul"

E muitas outras dores que rondam nossa amada.

  Qual seria a melancólia relação do cinema com a triseza? Por que todo o espírito artístico é cercado de mágoa? A boa arte é boa por culpa dos espinhos, ou a boa arte seria boa por sí só?

  Mesmo o mais besterol dos filmes possui lentes azuis. Lembro-me de uma vaga fala em "Os normais". O flerte do ridículo real com a espetacular condução cinematográfica decide tomar um tempo para tragar um cigarro em certo episódio, e entre fumaças godarianas conta-se um pequeno segredo: "Todos já pensaram em se matar. Hoje de manhã mesmo eu pensei 3 vezes. Sabe aquela loirona, alta como um prédio e de olhos azuis como o vazio céu? Então, me contou que pensa em se matar todos os dias"

Piada inocente, ou segredo cruel?


        É certo que a exibição pura e vulgar de uma emoção nada emcontra em nossos corações. Filmar horas e horas um casal apaixonado só trará tédio. Erro tão comum em nestes tempos estranos. Lembro-me do estranho banho que tomei ao fim de "Loucamente Apaixonados" Talvez a presença da dor sirva justamente  para engrandecer um amor. Se todos fossem felizes, ser feliz seria o habitual, tornando-se dessa forma normal, só mais um estado de espírito que sentimos todos os dias. Talvez, se todos fossem felizes, teriamos que definir novos, provavelmente mais agressivos, padrões de felicidade. Na suécia tornou-se comum jogos agressivos, situações controladas que nos colocam em perigo mortal, o falso risco de vida, a injeção da adrenalina, mantenha-se constantemente drogado para nunca mais sentir o vazio da vida. Mantenha-se constantemente drogado para nunca mais precisar viver....
 Nem eu ao certo sei por que digo isso, é tudo muito.... muito tudo.

  Cego de amor
   Cego de dor
    Cego de pavor
     Cego por opção

       Muitos críticos crêeem que a câmera deve simular o olho humano. O telespectador, por mais que passivo, vive tudo aquilo como se estivesse lá. Os cortes, nem um pouco reais mas esqueça isso dizem eles, servem para te guiar pela ralidade projetada. Vão te levar ao êxtase emocional. Mostrar a dor talvez seja uma forma de ganhar simpatia. Olhe, nosso mundo não é diferente do de vocês, nós também choramos, nós também gritamos, nós também sofremos, venha, sinta meu mundo, viva minha vida, juntos, juntos, juntos, juntos.

         Cada dia mais estamos mais separados. Mesmo a uma mensagem de distância nós nos sentimos mais e mais sozinhos no mundo. Curioso, não? Na era da conecção, poucos são aqueles que realmente se conctam. Liquidez inerte. Talvez seja isso que o cinema tente fazer, unir as pessoas. Juntar estranhos em uma sala escura, um ambiente de natureza hostil, e faze-los dividir emoções. Viver de forma real através do irreal.        Não. Não nós unimos após a sessão de cinema. Assim que acaba o filme, assim que acaba a vida, levantamos e vamos embora. Poucos pensam sobre o que acabaram de ver, e estes loucos por muitas vezes pensam sozinhos.

        Talvez o cinema não deva unir o eu com a sociedade, talvez sirva para unir o eu com a irrealidade. Se a vida é sofrida, se o fetiche da TV não o mais satisfaz, se nada faz sentido, vá ao cinema. Brincaram comigo uma vez, seu sonho é criar mundos para fugir da tão real falsa vida. Viram o trailer do novo filme do Selton Melo? "Cinema é uma coisa estranha. Você fica duas horas num local escuro cuidando da vida dos outros ao invês de cuidar da sua". Mostrar a dor no cinema talvez sirva para nos alertar, prepara o terreno para a vindora felicidade. Olhe! Veja como ela teve que lutar antes de poder sorrir em paz (Ideologia). Veja como o amor deles é romântico e eterno (ilusório). Veja como apesar de tudo aquilo eles ainda conseguem se abraçar (mentira cruel que rasga os maltratados terrenos de meu cerne).
       Hoje um homem me disse "Fui num teatro. Assisti 'Os Miseráveis'. Detestei. Aquela tristeza toda não me alegra, não é meu tipo de espetáculo, quero mais é ver 'Cantando na chuva'!". Não entendo, nunca entendo. Cinema deve servir para me confortar? Talvez seja este o secreto prazer em ver filmes "tristes", relembrar que a vida é uma merda. Olhe, a vida é um saco, culpar seus pais por te trazem a esse mar de dor é uma boa, egoísta. Mas já que está aqui, e até agora todas as balas de seu revolver atingiram apenas seu nariz, veja esse filme. Lembre como a vida de todas é uma merda, todos sofrem. Sabe o que realmente doí? A felicidade. Se não houvesse os tênues momentos de felicidade (felicidade não prazer, seus modernos líquidos) não haveria parâmetro ditador de tristeza. Ora bolas! Se tudo é azul, não existe vermelho e muito menos verde! Saber que todos sofrem é reconfortante para aquele que sofre, é como um saber de um velho sábio, "a dor é a única constante universal". Por que todos sorriem enquanto eu choro? Como faço para sorrir? Deus? Dinheiro? Prazeres vazios? Não. É a persona deles que sorri, nunca eles. Olhe, saber que a vida é boa é o maior choque para o melancólico, pois isso significa que ele é o real culpado de sua própria desgraça.
Perdoe-me Rosa, mas acho que devo, se me permite, fazer um adendo a seu pensamento: Aquele que tenta se mover verá as correntes que o prende. Correntes cunhadas pelo meu próprio punho.
 É confortável estar preso sem saber. Mentira. É a dor de "A vida de uma mulher", angústia sartriana, sofro sem nem ao menos saber o por que.

...
 "É uma história contada por um idiota, cheio de furia e tumulto, nada significando"
                                                   -Macbeth

      Estas citações, não são elas que me atormentam, o que me atormenta? Espero ter errado logo acima, o cinema não deve ter sentido definido, a arte é bela como a liberdade, tente defina-la e irá quebrar sua própria essência. No fim não chegamos a lugar nenhum, após tantas palavras, tantas dúvidas, tantas dores, nada de concreto encontramos. Nem ao menos sei se devo pedir perdão a você leitor, não sei se errei, estou tão confuso quanto você. Meu quarto continua frio e escuro, talvez tenha feito tudo isso apenas para te-lo comigo por alguns minutos. Mas agora você deve ir, não perca mais tempo comigo. Viva! Condene-se a ser livre. Corra pelas curvas da vida como nuvens, indo e vindo sem nunca pesar, sabendo que teu único objetivo é definhar em lágrimas e se acabar. Orro que pelo menos acabe sobre um casal de namorados, que deita na grama e divide sonhos, olhos virgens de almas leves e românticas. "Duvido que alguém realmente seja feliz. Eu sou feliz. Você deve ter menos do que vinte anos".
   Nem todo filme mostra uma dor como a da "Cidade de Deus", na qual tudo não passa de um problema social. Como nem todo filme mostra uma dor como a de "Annie Hall", na qual tudo não passa de um problema pessoal. Talvez seja isso que queiram nos dizer, todos sofrem, independe do externo, o interno sempre vai doer.



     Posso lhe contar uma última nota? Depois dessa deixo-o voar. Vou lhe revelar minha maior angústia. Sentenças que tiram me a alma. Cortam me o sonho:

       Machado de Assis, negro, brasileiro, eplético, escritor de uns dos livros mais tristes que conheço, disse nosleito de morte "A vida é boa"
       
        Machado de Assis, humano, disse no leito de morte "A vida é boa"

A invisível história bem contada de uma parede riscada

    Acordo. He. Voltei, sim, parece que nunca vão me deixar descansar no vão da memória. Sim, sinto seus dedos tremerem de nervosismo por me ver, acha que não consegue mais, certo? Tolo como sempre.
   Se a luz da lua corta a bela escuridão azulando minha negra pele pouco me importa. Pouco me importa sua poesia. Imagens e imagens. Metáfora e metáforas. No fim qual é a importância? Não passam todas de uma ficção doentia. Diz que faz para embelezar, mas que beleza elas trazem? São apenas desilusões românticas, feitas apenas para seus tristes olhos.
   Não me apresse, logo hei de cumprir seus anceios. Sim, sim, vi o fantasma na porta. É ele que não me deixa dormir? He. Me diga uma coisa autor, quem está morto? Ele que não tem escolha, ou você que sempre escolhe o passado?
      Não me importo. Adendo meu cigarro e vejo a lua. Está pronto para seu desiludido orgasmo de divagações? Uma viajem à lua, tão fútil quanto sua própria intenção.
     Escreve aqui que devo falar de um seriado:  "Dear White People". Hummmm, iremos falar de racismo agora? Peculiar. Indago o motivo do ser perseguir tanto conflitos incompreensíveis para sua razão "maior". Hommo Sapiens é o,,,,,,, não devo falar palavrão? Estraga sua obra poética? Arruina sua ópera narcisista? Fodasse. Hommo Sapiens é o caralho. Deixe me contar uma coisa autor, creio que esse seu intelecto elevadíssimo adorou a série. É claro que estou certa. Creio que ovacionou a proposta de discutir o racismo de forma reta e direta, sem devaneios românticos como Moonlight. Realmente a série deve ser revolucionária. Tanto o é que nem ao menos reposou na sombra da fama espetacularizadade daquela outra série de suicídio. Culpa o racismo disto? Que se a série usasse brancos seria mais conhecida? Imagino que o mesmo sirva pro filme. Ok, concordo que a passiva agressividade da produção, não, não e não, quis falar série, não me importo se estou repetindo palvras, nem ao menos ouse me forçar a dizer o que não quero. Onde estavamos? Ah, sim. A passiva agressividade da série pode ter assustado a audiência, ao final de contas, o racismo existe, mesmo havendo toda uma ancia em nega-lo luz. Mas a série não é revolucionária, nunca será.
       Por onde começar? Pelos personagens? Hummm, boa ideia, parece que alguém ainda tem picos de inteligência ocasionalmente. Machon, marchon. "Que o sangue dos infiéis banhe nossa terra". Olhe como marcha a revolução! Oh que orgulho patriótico! Oh que saudosismo do sol esclarecido que rezulia no corpo desfuncional de meus antepassados! Nunca vamos tombar gritavam aquele que hoje se encontram tombados dentro da cova do esquecimento. Mas tema não, camarada! Pois veja o renascer heróico de um grito angustiado! Veja como nossos guerreiros são livres! Gritem pelas entranhas da mais elitisada instituição. Praguejam contra os caras pálidas, guerriando com os aparelhos construídos pelo inimigo. Subversão dirão alguns. Diz estarem &acordados&, mas necessitam publicar na internet todas suas angústias. Olhe nesse autoretrato eletrônico como sou livre! Adidas e Iphone, é a marca da libertação! E se mesmo meu desespero digital não te despertar, não tema irmão, pois as sabias palavras de nossa líder hão de ilumina-lo: &Caras pessoas brancas, vocês são racistas. Owwwwwwwwwww, viva la revoluchon mothefuckers!& (Me recuso a imitar os barulhos de rádio que ela faz).
      Sinto seu desgosto crescer, ofendi sua nova novela favorita da última semana? É tão esdrúxulo que usa frase de outro autor sem a menor preocupação, ético pra caralho. Sim, sim, sim, concordo que a fraqueza dos personagens serve para dar mais realidade a tudo aquilo. Na verdade até admiro a coragem do escritor ao fazer aquilo. Se eles fossem pilares éticos, respirando apenas a mais pura revolução, estaria criticando a ultra romantisação deles. Minha crítica não repousa na produção em sí, admito até ter gostado, o episódio de paródias cinematográficas realmente me fez sorir. Tirando o fato de não passar de uma cópia radical das obras do Spike Lee, é muito boa a série.
e só
    É uma série. Igual a qualquer outra. Igual àquela merda televisiva que foi a do suicídio lá. Mas esse é o fim? Toda aquela ância de revolução, será que realmente tudo aquilo não deve passar de uma grande espetacularização? Hollywood já está amendrontada de ser chamada de racista novamente, será que ainda precisamos apenas sensibilizar às pessoas? Quando vamos parar de apenas gritar que o racismo existe e começar a dar uma visão antropológica para tudo aquilo. Chega de arranhar uma superfície riscada.
              Moonlight é um bom filme. Muito bonito, cenas lindas, a ideia da pele azul foi extremamente bela, embora previsível. Dear White People é uma boa série. Simetria perfeita, um belíssimo jogo de luz. Qualquer cena no auditório de gravação era um espetáculo visual. O Limite Entre Nós é um bom filme. Embora peque muito na câmera, as falas são cortante, possuindo cada uma a beleza nua e crual teatral. Posso continuar isso por um bom tempo, um tempo, não um bom tempo por que vai encher o saco (útero) mais tarde. Sempre serão bos filmes. O cinema ameriano está repleto deles, mas sabe do que ele está mais cheio? De medo. Sim, meu caros leitores, o cinema norte americano está se afogando de medo. Desde que seu maior prêmio ganhou fama de racismo, os produtores holywoodianos temem sofrer uma consequência séria.      Na verdade, pensando melhor, eles não estão com medo, estão extremamente alegres. Nós demos nosso último filho a eles. O Blackexplotation virou mercantil. O movimento de gênesis contra cultura, crítico e satírico acabou de ser vendido pelos próprios pais para servir de escudo aos que oprimem.
       A década de 60 foi uma parteira de ídolos. Se as ruas queimavam o fogo da revolução, a cultura queimava o fogo da criação. O Brasil ardia uma ditadura, e as cinematecas ardiam o cinema novo. Panteras negras saiam nas ruas, Blackula saia ás escuras. Minorias, no maior espírito neo-realista, armaram-se de câmeras, preparam seus tripés, carregaram seus rolos, e começaram a filmar sadicamente a vida nos guetos. A cultura negra chegava no cinema. Cafetões, dráculas negões, black-powers, sensuais agentes secretas, DEUSA, até 007 foi pego na guerra! Claro que também havia um interesse mercantil na época, não me venha com essa de antigamente era mehor. Afinal de contas, havia uma grande parcela da população anciosa para ser retratada nas telonas. Por que o capitalismo na verdade não é racista, pode ter pele negrinha, amarelinha, branquinha, rosinha, pode ter todos os inhás do mundo, só importa se tem verdinha. Eicha trocadilo tosco, parece que alguém se esqueceu de fingir ser experto, é com X mesmo seus ignorantes. Mas olhe lá, que na terra na coca-cola algo vem acontecendo. Ondas de revoltas. Policiais tolos disparam em jovens bobos, pedaços de cérebro e sangue caem sobre as páginas do jornal, crianças feias e cegas choram nos campos astrais onde dançou Emma Stone e Ryan Gosley. Ah Ouroroboros, pare de atormentar minha amada. Cego é aquele que cré no medo de demônios. Demônios não vêem medo, vêem oportunidades. Nossa! O Oscar é racista?! Uau, que revelação! Que tal fazermos mil e uma produções sobre racismo, assim provamos que não somos. Além de ganharmos uma bela grana.
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Olha, tem uma nova série do Netflix que fala de racismo. Que maneiro! Finalmente os tempos estão mudando
 
         Falar sobre racismo é fácil, o difícil é analisar o racismo. Qualquer imbecil pode fazer um filme sobre racismo, é só pegar a merda de uma câmera e sair filmando. Sabe essa revolução que tanto clamam? Não vai acontecer. A nova onda do Blackexpotation não vai mudr nada, ela só evidência o óbvio. Por que, nooooosa, Moonlight mudou minha vida! Nunca ia imaginar que um moleque negro, homosexual, com uma mãe drogada e como única figura paterna um traficante, iria sofrer tanto preconceito! Que mundo louco, não é mesmo? Sabe quantos anos se fala de racismo na arte? Muitos, muitos mesmo. Sabe quantas mudanças a arte fez? He...      Não dizendo que ela não possa mudar nada, claro que pode. Freud dizia que a civilização está condenada, a única marcha efetiva que realizaremos será a marcha para o suicídio. Não há esperança. MAS! Outro psicologico, que ironicamente não me lembro o nome, anunciava a chegada de um Messias: A arte! Capaz de sensibilar até o mais duro coração. Será a arte nossa guia para a glória! Nossa salvação! Oh, maravilha amazônica! Não vai acontecer. Nosso messias parece ter se perdido em devaneios individuais. Almejando tanto um orgasmos poético que se esqueceu de sua missão. A revolução tentou pegar a lua, mas diferente de Ismália, não tinha asas concretas e caiu.
     Entenda meu pessimismo. Confiar no cinema comercial é confiar na falha estrutural da escopeta em sua boca. Confiar no cinema artístico é confiar na fidelidade de Dionísio, sim, sim, é claro que ele vai ligar amanhã. Confiar no cinema político, HA! que cinema político? Quem são os descendentes de Glauber Rocha? Aliás, qual foi a mudança de Glauber Rocha. O Sertão ainda ta aí, nunca virou mar. Lembrem-se sempre, a única luz efetiva na vida de Pixote não foi a dos holofotes, foi a da bala que partiu seu crânio.
        Não discutimos o racismo, apenas falamos que ele exite. Volto a repetir, riscamos o vidro riscado. Mas o que eu quero? Quero no meio do filme começe um monólogo filosófico? Alguém por favor apague a luz por que o Sr. Antropólogo ali vai decorrer uma pesquisa de doutorado sobre a origem do racismo. Admita, nínguem quer isso. Não há a cultura do documentário, nínguem vai no cinema pra ver um documetária, vamos ao cinema pra ver de novo o Homem de Ferro derrotar um novo villão amendrontador. Sabe qual é o real villão da história? Nós. Se o público quisesse ver uma análise antropológica do racismo, os produtores correriam pra entregar isso a ele. Ah, então devemos educar mais o telespctador, refinar sua interpretação artística e crítica! Ainda há esperança! Acendo outro cigarro. Digo lhe apenas uma coisa, veja 2001 do Kubrick.
        O sonho de Martim L.K. não passou de mais um sonho de Hipnos. Um devaneio rotineiro que não veio a mente. Sim, ele teve sua importância, mas o que mudou? O que mudou Glauber Rocha filmar o sertão? O que mudou Spike Lee filmar o Brooklym? O que mudou? Chego na conclusão que a penas Gordard mudou alguma coisa, parou de fazer filme para os outros e começou a fazer para sí. Sabe o que é mais engraçado disso tudo? Que mesmo Spike Lee sendo um grande artísta, ele nunca será mais revolucionário que Griffin e todo seu racismo em cortes.
       Lembrou de mim? Que bom, por que eu não senti saudades. Pare de inventar novas interpretações para Cão Andaluz, você não vai entender. É maior que você. Sabe... No fim das contas aquela sériezinha tinha uma mensagem legal. Mesmo os &revolucionários& estarem atentos para parte do mundo que os cerca, sempre estarão presos pela parte que não vêem. É a cegueira inerte do ser. Olhe sempre pra frente, como um cavalo de corrida, pouco importa se a chicotada vem dos lados. Chega, quero dormir. Apago meu último cigarro e parto para a cama.

  Não dá poucos segundos do momento que preguo os olhos do momento que o fantasma ri. Seu espectro branco continua fixo no canto, mas não mais calado, não aguenta seu fardo de apenas observar. Com um último eforço me pergunta em tom alegre: &Diga-me uma coisa garota. Você é uma cética, ou apenas uma conformista& 

terça-feira, 11 de julho de 2017

Homem Aranha: de volta ao lar [crítica(?)]


                                                     FIRULA: o início

Sequência 1

    Começamos com alguns curtos segundos de tela preta aliados à completa ausência de som. Logo abrimos para o âmbito lunar, com um homem <ator a escolher, possivelmente o Idris Elba> trajado em uma futurística roupa espacial percorrendo o cenário. Palhetas azuladas, sútis; devemos projetar em planos comtemplativos, podendo telespectador presenciar toda a beleza e solidão do local.

    Cortamos para o rosto do homem, que por enquanto ainda é um mistério ao público devido ao capacete. Primeiro plano, claro, ...    chupa Bergman.

    As cenas a seguir devem todas mostrar o astronauta adentrando em sua base, sendo todas de curta duração. Importante frisar a falta total de som.

    1) Botas do protagonista amassam a fina poeira lunar
    2) Vemos ao longe uma pequena estação espacial
    3) Em Plano Médio segue-se a entrada do indivíduo em sua nave. Câmera fixa
    4) Momemto alá Edgar Wright, só que simétrico, ou seja, bom
         a)porta abre
         b)pequeno compartimento, lembrando muito arcos curvos romanos cinzas
         c)mangueiras high-tech/pintadas de preto. Começam fechadas, mas logo espelem água ou sei lá que treco é aquele das salas de desinfecção


cansei da firula já
esqueci de pensar que existe o resto do texto

acelerando a treta toda: Idris Elba está sozinho em uma estação lunar. O ambiente melancólico o traz memórias antigas, lembra de sua infância terrestre. Avisado por um Hal nove mil fuleco, ele passa a gravar suas memórias

                                           Firula: O final

     Lembro-me de uma época muito remota em minha memória. Imagens tão antigas que até reluto em dizer-lhes minhas. Lembro-me de tempos de aurora, nos quais os campos virgens de minha alma gozavam da simples alegria de viver. São incontáveis imagens que aportam o duvidoso leito da memória, e se dentro delas devo escolher uma, escolho a de menor importância. Talvez por simples luxo meu, aproveitar a estima de revolta, se opondo ao padrão. Talvez por crer que são as pequenas coisas que formam as pontes. Talvez por simples obrigação.
    
    
       A escolhida contempla uma amistosa ida ao cinema, ação tão corriqueira a minha pessoa. O filme em questão era "Homem-Aranha: de volta ao lar". Nome bem nomeado devido todo o simbolismo da película, simbolismo este que você já deve estar familiarizado.*
        A história do filme em sí não mero descarte, reciclável claro, mas ainda possuia um certo frescor devido bons pontos de virada. Nada muito original, uma daquelas boas histórias mensais do amigão da vizinhança. A palavra chave é: adequado.

          O problema se concentra todo em quesitos técnicos, ou seja, no que faz um filme bom. Graves problemas de iluminação tornavam aquilo que devia ser uma explosão de cores em genérico. Cenas lindas eram perdidas pela tonalidade escura, algo que filmes hediondos como Mulher-Maravilha souberam se esquivar muito bem.
        Enquanto o filme do maior símbolo feminino, mas mega desperdiçado, tem todo o seu brilho devido a cores, o jovem aranha peca feio ao adotar a escuridão. Se Diana percorria cenários vislumbrosos recheados de cores como Themyscira, Peter andava por tediosos quintais escuros. Friso bem como "Mulher-Maravilha", mesmo com um roteiro vergonhoso, consegue criar uma forte relação entre suas palhetas e o enredo, a ilhas das mulheres é recheada de verde e dourado, o mundo dos homens é cinza, o uniforme de Diana é vermelho e azul vivos, o de Trevor é marrom e verde mortos. Claro que cores não fazem um filme, mas fazem a cena.
     
        Indago o motivo desses erros tão grotescos. Por que todo filme da Marvel- erro- Por que todo filme blockbusters americano é repleto deles? Por que sempre há algo que podia ser melhor? É sempre a mesma conversa. "Esse filme errou aqui, este aqui aqui, aquele ali ali" Imploro te Ouroboros, pare de atomentar minha amada. 
        Tal ciclo vicioso não é de hoje, tem origem muito antiga, mas devo me conter ao início do cinema americano, não posso exceder outro arquivo de áudio. "Dos 8 aos 80" gritava o produtor americano enquanto distribuía roteiros a todos os interessados. Aquele que analisasse de perto o cenário americano lembraria-se do modo de produção fordista. O filme era tratado como um produto. Alguém teve a ideia, um outro alguém a comprou, outro alguém a roterizou, outro alguém escreveu as falas, outro alguém, outro alguém, outro alguém. O filme era filho de mil pais, mas nunca havia ao certo uma Mãe para lhe proteger. Se esse mecanismo alcançou sucesso em filmes como Psicose (caso te digam que Hitcook fizerá tudo sozinho, por favor, deseje a pessoa um novo cilco no inferno), ele encontra o mais puro fracasso na maioria das produções. Filmes sem alma, sem personalidade, um parecido com o outro, nunca há revolução.

       A Nouvelle Vague viria reclamar desse modelo, clamando para si  o "eu artístico". Claro que ainda haveria uma grande time de produção, a final todo grande filme é fruto do bom trabalho em equipe, mas haveria agora um gênio em destaque. Alguém controlaria o destino da filmagem, alguém que não estava interessado apenas em lucrar, havia agora um "eu poético" por trás de tudo.
        Nunca se perguntou por que falam tanto da estética de tais diretores? Porque dizem que essa cena lembra um filme do Wes Andersen, ou esse dialogo é alá Woody Allen. Pois há um eu artístico nesses diretores. Há uma expressão única. 
       O problema que vejo ser muito grave no cinema é a fragmentação excessiva. É praticamente impossível realizar uma mega produção com uma equipe de 5 pessoas. O próprio meio acadêmico nos ensina a especializarmos em um estágio de produção. O operador de câmeras não deve saber o mesmo do supervisor das artes digitais. Volto a concordar que isso garante um novo frescor de ideias ao filme, Psicose não seria Psicose se não fosse todo um trabalho em equipe, está aí o excelência de Hitcook, organizar bem um time de gênios. Lembro-me, só para reforçar este último ponto, de uma entrevista recente do Tom King. O recém descorberto ídolo dos roteristas de quadrinhos comentava quando Don Diddo ofereceu-lhe a chance de escrever um cross-over do Batman com o Looney Tunes. Achando tudo aquilo uma grande piada, King aceitou em fazer um quadrinho de comédia. Mas ao entrar em contato com o grande 
Lee Weeks, King mudou de ideia. Weeks tinha em mente um enredo maduro, sua arte rabiscada apontava para um cenário Noir, ali havia peso, havia drama, havia novidade, ali surgia um dos melhores títulos lançados no ano de 2017. Caso Weeks não tivesse entrado no processo teriamos recedido apenas mais um título humorístico da DC, nada que não ficasse na sombra do Homem Elástico. A parceria é importante, mas até quanto podemos fragmentar um roteiro? Uma poesia é escrita de forma individual, a beleza nela é fruto de um espírito solitário, mágoas únicas, claro que há interferência externa, mas no fundo do fundo, só há jm poeta. No modelo fordista não. Quem diria que "Tempos Modernos" seria refém de sua própria crítica.

Erro grave: perceba como o tonto aqui se perdeu em divagações no meio do caminho. Um parágrafo que começava com problemas, acabou apontando apenas perfeições. Não façam isso em casa crianças.

        Temo ter me perdido de divagações. Culpar o cenário inóspito é apenas uma forma de fugir de meu erro. Deixe-me esclarecer o cerne do problema: Logo no início de Homem Aranha, temos uma cena na qual Peter dialoga rotineiramente com sua Tia em um restaurante. A câmera é posta de lado, priorizando o velho modelo de um falar e o outro responder, tudo em Plano Americano, óbvio. Os breves momentos de simetria da cena são apenas para introduzir o ambiente ao público, cortando diretamente para os personagens. Não culpo esse lapso de pontos de fuga, Kubrick teria um colapso, culpo a escuridão da cena. Um restaurante possui uma luz artificializada, propícia para o intimismo, pensado em ressaltar a imagem do prato. A luz amarelada é logo acompanhada dos raios que entram pela janela, formando uma aquarela de cores. O jogo de luzes criaria um ambiente agradável, algo bonito de se ver. Mas no filme não há isso. A luz de fundo é apenas um brilho fraco, holofotes, agora sim mega artificiais, sugam todo o brilho da cena, tornando-a apenas mais uma em uma sequência de erros. Questione comigo ouvinte, como teria sido essa cena se houvesse um eu artístico forte?

          Tenho a preconceituosa mania de culpar o lapso artístico pela contratação de diretores de série, já que eles estariam acostumados em apenas seguir Screen Plays prontos. Mas o real problema não é esse. É extremamente rotineiro lermos notícias de diretores renomados serem afastados de filmes de herói por culpa de "diferença criativa", o que traduzido do grego significa "ele queria fazer um filme novo e eu queria ganhar dinheiro". Você viu Homem Formiga? Não? Então antes de ver peço para que assista alguns filmes do Edgar Wright primeiro, depois veja o filme sabendo que o diretor fora substituido devido "diferenças criativas"
       Lembra daquele produtor que gritava dos 8 aos 80? Sabe o que passava na cabeça dele? $. "O filme deve agradar uma audiência de 8 a 80 anos". Um grande problema do cinema holywoodiano é o fato deles serem extremamente conservadores, mas serem obrigados a inovar de tempos em tempos para não perder o público. Se depois de 12 anos de filmes de herói sequenciados, chegou-se na hora de apostar em novidades como Logan e Deadpool. E caso o novo vire fama, fragmentamos ele por 12 anos, até virar antiquado e algo novo surgir. Ouroboros, pare de atormentar minha amada.

    Vejo o diârio de bordo apontar o fim de sua curta jornada. Ainda tenho tanto a lhe falar. Preciso contar sobre o vilão e como denegrem a imagem de revolta, preciso falar dos casos de racismo, preciso falar da atuação e das terríveis falas colocadas posteriori ás filmagens. Ainda nem falei do método Marvel, ou como é ofensivo ver o Stan Lee na tela. Preciso contar tanta coisa, espero até que tenha entendido que se essa crítica foge dos padrões tradicionais é pelo simples ímpeto de querer inovar, em ser mais. Preciso dizer muito mais, mas o estúdio pede para deixar tudo para a sequência.

Fim do diário de bordo

*Explicando rápidinho: Depois do florescer artístico dos anos 80, o mercado americano entrou em crise ao final da década de 90. A péssima escolha de favorecer uma arte exageradéssima, mulheres palito e homens bombas, tendo que matar a qualidade da escrita se mostrou um tiro no pé quando os maiores desenhistas saíram da Marvel e da DC para criarem seus próprios estúdios (Image). Claro que a brigua por melhores salários e um domínio artístico ocorre desda gênesis dos quadrinhos, mas nesse período isto fora bem agravado. O baixo recorde de vendas abriu um rombo no orçamento dos estúdios, forçando a Marvel a declarar falência. A esperança veio de um horizonte pouco explorado pela empresa, o cinema. A casa das ideias ofertou os direitos de seus maiores personagens, e abutres como a Fox e a Sony viram ali sucesso fácil. Filhos prodígios como Homem Aranha e X-Man saiam de casa, deixando apenas os esquadrões C, como Homem de Ferro.
      Recuperada da crise, a venda ajudara-lhe muito, e com o renascer das vendas, chegou-se a hora de apostar no cinema. Depois de tantos fracassos como Demolidor, saí em 2008 Homem de Ferro. O universo Marvel explodiu. Se a Fox ainda lucrava com a franquia que restabelecera o cinema de heróis, a Sony cambaleava após duas sequências horríveis do Aranha. Não se podia mais viver do passado, Sam Rami agora existia em outro tempo, estava na hora de deixar o orgulho de lado. Com o tempo limite de 5 anos se aproximando (o acordo dizia que a cada 5 em 5 anos deveria haver um filme daqueles personagens, caso o contrário eles voltavam pra Marvel), a Sony aceita em realizar um novo contrato com a Marvel. Homem Aranha acabara de ganhar uma nova casa. Ainda que tudo esteja um pouco nebuloso, sem sabermos ao certo se filmes como Venom ou Gata Negra serão canônicos, ou se sequer existirão, a única certeza é que o aranha está de volta ao lar.