sexta-feira, 28 de julho de 2017

A invisível história bem contada de uma parede riscada

    Acordo. He. Voltei, sim, parece que nunca vão me deixar descansar no vão da memória. Sim, sinto seus dedos tremerem de nervosismo por me ver, acha que não consegue mais, certo? Tolo como sempre.
   Se a luz da lua corta a bela escuridão azulando minha negra pele pouco me importa. Pouco me importa sua poesia. Imagens e imagens. Metáfora e metáforas. No fim qual é a importância? Não passam todas de uma ficção doentia. Diz que faz para embelezar, mas que beleza elas trazem? São apenas desilusões românticas, feitas apenas para seus tristes olhos.
   Não me apresse, logo hei de cumprir seus anceios. Sim, sim, vi o fantasma na porta. É ele que não me deixa dormir? He. Me diga uma coisa autor, quem está morto? Ele que não tem escolha, ou você que sempre escolhe o passado?
      Não me importo. Adendo meu cigarro e vejo a lua. Está pronto para seu desiludido orgasmo de divagações? Uma viajem à lua, tão fútil quanto sua própria intenção.
     Escreve aqui que devo falar de um seriado:  "Dear White People". Hummmm, iremos falar de racismo agora? Peculiar. Indago o motivo do ser perseguir tanto conflitos incompreensíveis para sua razão "maior". Hommo Sapiens é o,,,,,,, não devo falar palavrão? Estraga sua obra poética? Arruina sua ópera narcisista? Fodasse. Hommo Sapiens é o caralho. Deixe me contar uma coisa autor, creio que esse seu intelecto elevadíssimo adorou a série. É claro que estou certa. Creio que ovacionou a proposta de discutir o racismo de forma reta e direta, sem devaneios românticos como Moonlight. Realmente a série deve ser revolucionária. Tanto o é que nem ao menos reposou na sombra da fama espetacularizadade daquela outra série de suicídio. Culpa o racismo disto? Que se a série usasse brancos seria mais conhecida? Imagino que o mesmo sirva pro filme. Ok, concordo que a passiva agressividade da produção, não, não e não, quis falar série, não me importo se estou repetindo palvras, nem ao menos ouse me forçar a dizer o que não quero. Onde estavamos? Ah, sim. A passiva agressividade da série pode ter assustado a audiência, ao final de contas, o racismo existe, mesmo havendo toda uma ancia em nega-lo luz. Mas a série não é revolucionária, nunca será.
       Por onde começar? Pelos personagens? Hummm, boa ideia, parece que alguém ainda tem picos de inteligência ocasionalmente. Machon, marchon. "Que o sangue dos infiéis banhe nossa terra". Olhe como marcha a revolução! Oh que orgulho patriótico! Oh que saudosismo do sol esclarecido que rezulia no corpo desfuncional de meus antepassados! Nunca vamos tombar gritavam aquele que hoje se encontram tombados dentro da cova do esquecimento. Mas tema não, camarada! Pois veja o renascer heróico de um grito angustiado! Veja como nossos guerreiros são livres! Gritem pelas entranhas da mais elitisada instituição. Praguejam contra os caras pálidas, guerriando com os aparelhos construídos pelo inimigo. Subversão dirão alguns. Diz estarem &acordados&, mas necessitam publicar na internet todas suas angústias. Olhe nesse autoretrato eletrônico como sou livre! Adidas e Iphone, é a marca da libertação! E se mesmo meu desespero digital não te despertar, não tema irmão, pois as sabias palavras de nossa líder hão de ilumina-lo: &Caras pessoas brancas, vocês são racistas. Owwwwwwwwwww, viva la revoluchon mothefuckers!& (Me recuso a imitar os barulhos de rádio que ela faz).
      Sinto seu desgosto crescer, ofendi sua nova novela favorita da última semana? É tão esdrúxulo que usa frase de outro autor sem a menor preocupação, ético pra caralho. Sim, sim, sim, concordo que a fraqueza dos personagens serve para dar mais realidade a tudo aquilo. Na verdade até admiro a coragem do escritor ao fazer aquilo. Se eles fossem pilares éticos, respirando apenas a mais pura revolução, estaria criticando a ultra romantisação deles. Minha crítica não repousa na produção em sí, admito até ter gostado, o episódio de paródias cinematográficas realmente me fez sorir. Tirando o fato de não passar de uma cópia radical das obras do Spike Lee, é muito boa a série.
e só
    É uma série. Igual a qualquer outra. Igual àquela merda televisiva que foi a do suicídio lá. Mas esse é o fim? Toda aquela ância de revolução, será que realmente tudo aquilo não deve passar de uma grande espetacularização? Hollywood já está amendrontada de ser chamada de racista novamente, será que ainda precisamos apenas sensibilizar às pessoas? Quando vamos parar de apenas gritar que o racismo existe e começar a dar uma visão antropológica para tudo aquilo. Chega de arranhar uma superfície riscada.
              Moonlight é um bom filme. Muito bonito, cenas lindas, a ideia da pele azul foi extremamente bela, embora previsível. Dear White People é uma boa série. Simetria perfeita, um belíssimo jogo de luz. Qualquer cena no auditório de gravação era um espetáculo visual. O Limite Entre Nós é um bom filme. Embora peque muito na câmera, as falas são cortante, possuindo cada uma a beleza nua e crual teatral. Posso continuar isso por um bom tempo, um tempo, não um bom tempo por que vai encher o saco (útero) mais tarde. Sempre serão bos filmes. O cinema ameriano está repleto deles, mas sabe do que ele está mais cheio? De medo. Sim, meu caros leitores, o cinema norte americano está se afogando de medo. Desde que seu maior prêmio ganhou fama de racismo, os produtores holywoodianos temem sofrer uma consequência séria.      Na verdade, pensando melhor, eles não estão com medo, estão extremamente alegres. Nós demos nosso último filho a eles. O Blackexplotation virou mercantil. O movimento de gênesis contra cultura, crítico e satírico acabou de ser vendido pelos próprios pais para servir de escudo aos que oprimem.
       A década de 60 foi uma parteira de ídolos. Se as ruas queimavam o fogo da revolução, a cultura queimava o fogo da criação. O Brasil ardia uma ditadura, e as cinematecas ardiam o cinema novo. Panteras negras saiam nas ruas, Blackula saia ás escuras. Minorias, no maior espírito neo-realista, armaram-se de câmeras, preparam seus tripés, carregaram seus rolos, e começaram a filmar sadicamente a vida nos guetos. A cultura negra chegava no cinema. Cafetões, dráculas negões, black-powers, sensuais agentes secretas, DEUSA, até 007 foi pego na guerra! Claro que também havia um interesse mercantil na época, não me venha com essa de antigamente era mehor. Afinal de contas, havia uma grande parcela da população anciosa para ser retratada nas telonas. Por que o capitalismo na verdade não é racista, pode ter pele negrinha, amarelinha, branquinha, rosinha, pode ter todos os inhás do mundo, só importa se tem verdinha. Eicha trocadilo tosco, parece que alguém se esqueceu de fingir ser experto, é com X mesmo seus ignorantes. Mas olhe lá, que na terra na coca-cola algo vem acontecendo. Ondas de revoltas. Policiais tolos disparam em jovens bobos, pedaços de cérebro e sangue caem sobre as páginas do jornal, crianças feias e cegas choram nos campos astrais onde dançou Emma Stone e Ryan Gosley. Ah Ouroroboros, pare de atormentar minha amada. Cego é aquele que cré no medo de demônios. Demônios não vêem medo, vêem oportunidades. Nossa! O Oscar é racista?! Uau, que revelação! Que tal fazermos mil e uma produções sobre racismo, assim provamos que não somos. Além de ganharmos uma bela grana.
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Olha, tem uma nova série do Netflix que fala de racismo. Que maneiro! Finalmente os tempos estão mudando
 
         Falar sobre racismo é fácil, o difícil é analisar o racismo. Qualquer imbecil pode fazer um filme sobre racismo, é só pegar a merda de uma câmera e sair filmando. Sabe essa revolução que tanto clamam? Não vai acontecer. A nova onda do Blackexpotation não vai mudr nada, ela só evidência o óbvio. Por que, nooooosa, Moonlight mudou minha vida! Nunca ia imaginar que um moleque negro, homosexual, com uma mãe drogada e como única figura paterna um traficante, iria sofrer tanto preconceito! Que mundo louco, não é mesmo? Sabe quantos anos se fala de racismo na arte? Muitos, muitos mesmo. Sabe quantas mudanças a arte fez? He...      Não dizendo que ela não possa mudar nada, claro que pode. Freud dizia que a civilização está condenada, a única marcha efetiva que realizaremos será a marcha para o suicídio. Não há esperança. MAS! Outro psicologico, que ironicamente não me lembro o nome, anunciava a chegada de um Messias: A arte! Capaz de sensibilar até o mais duro coração. Será a arte nossa guia para a glória! Nossa salvação! Oh, maravilha amazônica! Não vai acontecer. Nosso messias parece ter se perdido em devaneios individuais. Almejando tanto um orgasmos poético que se esqueceu de sua missão. A revolução tentou pegar a lua, mas diferente de Ismália, não tinha asas concretas e caiu.
     Entenda meu pessimismo. Confiar no cinema comercial é confiar na falha estrutural da escopeta em sua boca. Confiar no cinema artístico é confiar na fidelidade de Dionísio, sim, sim, é claro que ele vai ligar amanhã. Confiar no cinema político, HA! que cinema político? Quem são os descendentes de Glauber Rocha? Aliás, qual foi a mudança de Glauber Rocha. O Sertão ainda ta aí, nunca virou mar. Lembrem-se sempre, a única luz efetiva na vida de Pixote não foi a dos holofotes, foi a da bala que partiu seu crânio.
        Não discutimos o racismo, apenas falamos que ele exite. Volto a repetir, riscamos o vidro riscado. Mas o que eu quero? Quero no meio do filme começe um monólogo filosófico? Alguém por favor apague a luz por que o Sr. Antropólogo ali vai decorrer uma pesquisa de doutorado sobre a origem do racismo. Admita, nínguem quer isso. Não há a cultura do documentário, nínguem vai no cinema pra ver um documetária, vamos ao cinema pra ver de novo o Homem de Ferro derrotar um novo villão amendrontador. Sabe qual é o real villão da história? Nós. Se o público quisesse ver uma análise antropológica do racismo, os produtores correriam pra entregar isso a ele. Ah, então devemos educar mais o telespctador, refinar sua interpretação artística e crítica! Ainda há esperança! Acendo outro cigarro. Digo lhe apenas uma coisa, veja 2001 do Kubrick.
        O sonho de Martim L.K. não passou de mais um sonho de Hipnos. Um devaneio rotineiro que não veio a mente. Sim, ele teve sua importância, mas o que mudou? O que mudou Glauber Rocha filmar o sertão? O que mudou Spike Lee filmar o Brooklym? O que mudou? Chego na conclusão que a penas Gordard mudou alguma coisa, parou de fazer filme para os outros e começou a fazer para sí. Sabe o que é mais engraçado disso tudo? Que mesmo Spike Lee sendo um grande artísta, ele nunca será mais revolucionário que Griffin e todo seu racismo em cortes.
       Lembrou de mim? Que bom, por que eu não senti saudades. Pare de inventar novas interpretações para Cão Andaluz, você não vai entender. É maior que você. Sabe... No fim das contas aquela sériezinha tinha uma mensagem legal. Mesmo os &revolucionários& estarem atentos para parte do mundo que os cerca, sempre estarão presos pela parte que não vêem. É a cegueira inerte do ser. Olhe sempre pra frente, como um cavalo de corrida, pouco importa se a chicotada vem dos lados. Chega, quero dormir. Apago meu último cigarro e parto para a cama.

  Não dá poucos segundos do momento que preguo os olhos do momento que o fantasma ri. Seu espectro branco continua fixo no canto, mas não mais calado, não aguenta seu fardo de apenas observar. Com um último eforço me pergunta em tom alegre: &Diga-me uma coisa garota. Você é uma cética, ou apenas uma conformista& 

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