terça-feira, 11 de julho de 2017

Homem Aranha: de volta ao lar [crítica(?)]


                                                     FIRULA: o início

Sequência 1

    Começamos com alguns curtos segundos de tela preta aliados à completa ausência de som. Logo abrimos para o âmbito lunar, com um homem <ator a escolher, possivelmente o Idris Elba> trajado em uma futurística roupa espacial percorrendo o cenário. Palhetas azuladas, sútis; devemos projetar em planos comtemplativos, podendo telespectador presenciar toda a beleza e solidão do local.

    Cortamos para o rosto do homem, que por enquanto ainda é um mistério ao público devido ao capacete. Primeiro plano, claro, ...    chupa Bergman.

    As cenas a seguir devem todas mostrar o astronauta adentrando em sua base, sendo todas de curta duração. Importante frisar a falta total de som.

    1) Botas do protagonista amassam a fina poeira lunar
    2) Vemos ao longe uma pequena estação espacial
    3) Em Plano Médio segue-se a entrada do indivíduo em sua nave. Câmera fixa
    4) Momemto alá Edgar Wright, só que simétrico, ou seja, bom
         a)porta abre
         b)pequeno compartimento, lembrando muito arcos curvos romanos cinzas
         c)mangueiras high-tech/pintadas de preto. Começam fechadas, mas logo espelem água ou sei lá que treco é aquele das salas de desinfecção


cansei da firula já
esqueci de pensar que existe o resto do texto

acelerando a treta toda: Idris Elba está sozinho em uma estação lunar. O ambiente melancólico o traz memórias antigas, lembra de sua infância terrestre. Avisado por um Hal nove mil fuleco, ele passa a gravar suas memórias

                                           Firula: O final

     Lembro-me de uma época muito remota em minha memória. Imagens tão antigas que até reluto em dizer-lhes minhas. Lembro-me de tempos de aurora, nos quais os campos virgens de minha alma gozavam da simples alegria de viver. São incontáveis imagens que aportam o duvidoso leito da memória, e se dentro delas devo escolher uma, escolho a de menor importância. Talvez por simples luxo meu, aproveitar a estima de revolta, se opondo ao padrão. Talvez por crer que são as pequenas coisas que formam as pontes. Talvez por simples obrigação.
    
    
       A escolhida contempla uma amistosa ida ao cinema, ação tão corriqueira a minha pessoa. O filme em questão era "Homem-Aranha: de volta ao lar". Nome bem nomeado devido todo o simbolismo da película, simbolismo este que você já deve estar familiarizado.*
        A história do filme em sí não mero descarte, reciclável claro, mas ainda possuia um certo frescor devido bons pontos de virada. Nada muito original, uma daquelas boas histórias mensais do amigão da vizinhança. A palavra chave é: adequado.

          O problema se concentra todo em quesitos técnicos, ou seja, no que faz um filme bom. Graves problemas de iluminação tornavam aquilo que devia ser uma explosão de cores em genérico. Cenas lindas eram perdidas pela tonalidade escura, algo que filmes hediondos como Mulher-Maravilha souberam se esquivar muito bem.
        Enquanto o filme do maior símbolo feminino, mas mega desperdiçado, tem todo o seu brilho devido a cores, o jovem aranha peca feio ao adotar a escuridão. Se Diana percorria cenários vislumbrosos recheados de cores como Themyscira, Peter andava por tediosos quintais escuros. Friso bem como "Mulher-Maravilha", mesmo com um roteiro vergonhoso, consegue criar uma forte relação entre suas palhetas e o enredo, a ilhas das mulheres é recheada de verde e dourado, o mundo dos homens é cinza, o uniforme de Diana é vermelho e azul vivos, o de Trevor é marrom e verde mortos. Claro que cores não fazem um filme, mas fazem a cena.
     
        Indago o motivo desses erros tão grotescos. Por que todo filme da Marvel- erro- Por que todo filme blockbusters americano é repleto deles? Por que sempre há algo que podia ser melhor? É sempre a mesma conversa. "Esse filme errou aqui, este aqui aqui, aquele ali ali" Imploro te Ouroboros, pare de atomentar minha amada. 
        Tal ciclo vicioso não é de hoje, tem origem muito antiga, mas devo me conter ao início do cinema americano, não posso exceder outro arquivo de áudio. "Dos 8 aos 80" gritava o produtor americano enquanto distribuía roteiros a todos os interessados. Aquele que analisasse de perto o cenário americano lembraria-se do modo de produção fordista. O filme era tratado como um produto. Alguém teve a ideia, um outro alguém a comprou, outro alguém a roterizou, outro alguém escreveu as falas, outro alguém, outro alguém, outro alguém. O filme era filho de mil pais, mas nunca havia ao certo uma Mãe para lhe proteger. Se esse mecanismo alcançou sucesso em filmes como Psicose (caso te digam que Hitcook fizerá tudo sozinho, por favor, deseje a pessoa um novo cilco no inferno), ele encontra o mais puro fracasso na maioria das produções. Filmes sem alma, sem personalidade, um parecido com o outro, nunca há revolução.

       A Nouvelle Vague viria reclamar desse modelo, clamando para si  o "eu artístico". Claro que ainda haveria uma grande time de produção, a final todo grande filme é fruto do bom trabalho em equipe, mas haveria agora um gênio em destaque. Alguém controlaria o destino da filmagem, alguém que não estava interessado apenas em lucrar, havia agora um "eu poético" por trás de tudo.
        Nunca se perguntou por que falam tanto da estética de tais diretores? Porque dizem que essa cena lembra um filme do Wes Andersen, ou esse dialogo é alá Woody Allen. Pois há um eu artístico nesses diretores. Há uma expressão única. 
       O problema que vejo ser muito grave no cinema é a fragmentação excessiva. É praticamente impossível realizar uma mega produção com uma equipe de 5 pessoas. O próprio meio acadêmico nos ensina a especializarmos em um estágio de produção. O operador de câmeras não deve saber o mesmo do supervisor das artes digitais. Volto a concordar que isso garante um novo frescor de ideias ao filme, Psicose não seria Psicose se não fosse todo um trabalho em equipe, está aí o excelência de Hitcook, organizar bem um time de gênios. Lembro-me, só para reforçar este último ponto, de uma entrevista recente do Tom King. O recém descorberto ídolo dos roteristas de quadrinhos comentava quando Don Diddo ofereceu-lhe a chance de escrever um cross-over do Batman com o Looney Tunes. Achando tudo aquilo uma grande piada, King aceitou em fazer um quadrinho de comédia. Mas ao entrar em contato com o grande 
Lee Weeks, King mudou de ideia. Weeks tinha em mente um enredo maduro, sua arte rabiscada apontava para um cenário Noir, ali havia peso, havia drama, havia novidade, ali surgia um dos melhores títulos lançados no ano de 2017. Caso Weeks não tivesse entrado no processo teriamos recedido apenas mais um título humorístico da DC, nada que não ficasse na sombra do Homem Elástico. A parceria é importante, mas até quanto podemos fragmentar um roteiro? Uma poesia é escrita de forma individual, a beleza nela é fruto de um espírito solitário, mágoas únicas, claro que há interferência externa, mas no fundo do fundo, só há jm poeta. No modelo fordista não. Quem diria que "Tempos Modernos" seria refém de sua própria crítica.

Erro grave: perceba como o tonto aqui se perdeu em divagações no meio do caminho. Um parágrafo que começava com problemas, acabou apontando apenas perfeições. Não façam isso em casa crianças.

        Temo ter me perdido de divagações. Culpar o cenário inóspito é apenas uma forma de fugir de meu erro. Deixe-me esclarecer o cerne do problema: Logo no início de Homem Aranha, temos uma cena na qual Peter dialoga rotineiramente com sua Tia em um restaurante. A câmera é posta de lado, priorizando o velho modelo de um falar e o outro responder, tudo em Plano Americano, óbvio. Os breves momentos de simetria da cena são apenas para introduzir o ambiente ao público, cortando diretamente para os personagens. Não culpo esse lapso de pontos de fuga, Kubrick teria um colapso, culpo a escuridão da cena. Um restaurante possui uma luz artificializada, propícia para o intimismo, pensado em ressaltar a imagem do prato. A luz amarelada é logo acompanhada dos raios que entram pela janela, formando uma aquarela de cores. O jogo de luzes criaria um ambiente agradável, algo bonito de se ver. Mas no filme não há isso. A luz de fundo é apenas um brilho fraco, holofotes, agora sim mega artificiais, sugam todo o brilho da cena, tornando-a apenas mais uma em uma sequência de erros. Questione comigo ouvinte, como teria sido essa cena se houvesse um eu artístico forte?

          Tenho a preconceituosa mania de culpar o lapso artístico pela contratação de diretores de série, já que eles estariam acostumados em apenas seguir Screen Plays prontos. Mas o real problema não é esse. É extremamente rotineiro lermos notícias de diretores renomados serem afastados de filmes de herói por culpa de "diferença criativa", o que traduzido do grego significa "ele queria fazer um filme novo e eu queria ganhar dinheiro". Você viu Homem Formiga? Não? Então antes de ver peço para que assista alguns filmes do Edgar Wright primeiro, depois veja o filme sabendo que o diretor fora substituido devido "diferenças criativas"
       Lembra daquele produtor que gritava dos 8 aos 80? Sabe o que passava na cabeça dele? $. "O filme deve agradar uma audiência de 8 a 80 anos". Um grande problema do cinema holywoodiano é o fato deles serem extremamente conservadores, mas serem obrigados a inovar de tempos em tempos para não perder o público. Se depois de 12 anos de filmes de herói sequenciados, chegou-se na hora de apostar em novidades como Logan e Deadpool. E caso o novo vire fama, fragmentamos ele por 12 anos, até virar antiquado e algo novo surgir. Ouroboros, pare de atormentar minha amada.

    Vejo o diârio de bordo apontar o fim de sua curta jornada. Ainda tenho tanto a lhe falar. Preciso contar sobre o vilão e como denegrem a imagem de revolta, preciso falar dos casos de racismo, preciso falar da atuação e das terríveis falas colocadas posteriori ás filmagens. Ainda nem falei do método Marvel, ou como é ofensivo ver o Stan Lee na tela. Preciso contar tanta coisa, espero até que tenha entendido que se essa crítica foge dos padrões tradicionais é pelo simples ímpeto de querer inovar, em ser mais. Preciso dizer muito mais, mas o estúdio pede para deixar tudo para a sequência.

Fim do diário de bordo

*Explicando rápidinho: Depois do florescer artístico dos anos 80, o mercado americano entrou em crise ao final da década de 90. A péssima escolha de favorecer uma arte exageradéssima, mulheres palito e homens bombas, tendo que matar a qualidade da escrita se mostrou um tiro no pé quando os maiores desenhistas saíram da Marvel e da DC para criarem seus próprios estúdios (Image). Claro que a brigua por melhores salários e um domínio artístico ocorre desda gênesis dos quadrinhos, mas nesse período isto fora bem agravado. O baixo recorde de vendas abriu um rombo no orçamento dos estúdios, forçando a Marvel a declarar falência. A esperança veio de um horizonte pouco explorado pela empresa, o cinema. A casa das ideias ofertou os direitos de seus maiores personagens, e abutres como a Fox e a Sony viram ali sucesso fácil. Filhos prodígios como Homem Aranha e X-Man saiam de casa, deixando apenas os esquadrões C, como Homem de Ferro.
      Recuperada da crise, a venda ajudara-lhe muito, e com o renascer das vendas, chegou-se a hora de apostar no cinema. Depois de tantos fracassos como Demolidor, saí em 2008 Homem de Ferro. O universo Marvel explodiu. Se a Fox ainda lucrava com a franquia que restabelecera o cinema de heróis, a Sony cambaleava após duas sequências horríveis do Aranha. Não se podia mais viver do passado, Sam Rami agora existia em outro tempo, estava na hora de deixar o orgulho de lado. Com o tempo limite de 5 anos se aproximando (o acordo dizia que a cada 5 em 5 anos deveria haver um filme daqueles personagens, caso o contrário eles voltavam pra Marvel), a Sony aceita em realizar um novo contrato com a Marvel. Homem Aranha acabara de ganhar uma nova casa. Ainda que tudo esteja um pouco nebuloso, sem sabermos ao certo se filmes como Venom ou Gata Negra serão canônicos, ou se sequer existirão, a única certeza é que o aranha está de volta ao lar.

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