A mente fútil de um ego em crise aberta somente para seus olhos Ou Como parei de me importar com vocês e passei a amar o nada Ou Mais um site vazio
sábado, 28 de outubro de 2017
"Cão mijando no caos"
Largado ao chão, desliso a mão sob a concurda de um cão. Tão insignificantes são meus ãos, que nem ao mesmo a graça do querer concede-me o cão. Sobe sua pele, uma montanha, células malignas, nada mais. A incompetência de seu dono custará-lhe a vida. E ele com isso? Continua ali, assim, com o rabo varrendo o ar, a língua ardendo por um vento frio, que venha a trépida chuva do mundo, que lhe importa?
que lhe importa estar vivo?
que lhe importa Kant?
que lhe importa algo?
nem eu lhe importo
sairá no menor dúbio barulho
procura algo maior?
não,
só um novo entreterimento
a vida passa, os momentos são apenas momentos
fui eu que fiz isso a ele? Privei-o da natureza, tranquei-o ao redor de murros e acorrentei-o com um colar de ferro
em troca de que? De sua fofura? A vida dele, sua existência, não passa de mera fofura?
Utilitarista
não há diferença entre você
e o "Sapiens" que usou o Boi
para plantar Trigo
nem o "Sapiens Sapiens" que
acorrentou o Boi para comer
Como posso culpar um mero cão por se levantar e ir fletar com o nada
se só o vim ver por falta de opção?
cerquei-me de amigos
cerquei-me de queridos
cerquei-me de eternos
cerquei-me de dúvidas
se sou tão querido, por que luto tanto contra a tentação de pedir-lhes ajuda?
descobri ontem como usar a água da chuva para lavar lágrimas
será culpa minha? Herança gênica que me impede de largar o orgulho?
ou será culpa deles? Embriagam-se em felizes personas, podendo assim sonhar um
tímido riso?
Não. Assim como não posso culpar o Cão por se afastar, não posso culpa-los de desejarem viver a vida.
Olhe pra ele. Seu foinho zombeia pelo ar. bam! Um inseto bêbado acerta a parrede
bam!
Som tão infímo para nós, bam
mas tão alucinante para o Cão ba-bam
bam! Bam
Ele enlouquece. Ofega. Caça. bam bam bam
Por Deus! Onde está´ esse maldito! bam bam bam bam
Fidalgo duma figa! Apareça! bam bam bam bam bam bam
Splash!
A patinha levanta, revelando o oculto bichinho.
Sem maiores comemorações, encara-o, e depois
parte atrás de um novo apego, deixando-me só
com sua presa
Mas pasmem! Tolo é aquele que pouco pensa sobre a casca do inseto. Em um hérculo esforço, ele se levanta. Com a asa quebrada, passa a perâmbular zonzo. Zanza pelo lesta, zombe no oeste, zune para o sul, e no norte encontra um empecilho: Uma murralha gigantesca tampa-lhe o caminho. Mas o que seria isso?! Onde já se viu tamanha aberação! Será que errei o caminho e parei na China?! Ou é apenas uma monstruosa araucária outorgada na região? Pouco importa! Devo focar em minha missão, voltar para a base, provar a todos minha utilidade! Não serei mais apenas um soldado, provarei a todos o meu valor! Terei sucesso, terei fama, eu conheci o mundo fora da toca! Já até posso sentir o gosto do ouro! Não serei só mais um no mundo!
Tolo. Ante minha mão ele pasma em devaneios. Trata-a como um murro. Nem ao menos sabe de que é feita. E eu sei do que é feito um murro? Cimento? Que é feito duma mistura de argila, cal e areia? Não sei. Me cerco de concreto, zombo, mas nem sei o que me prende. Ante ao conhecido desconhecido, levo a vida como o inseto.
O Cão volta, quase pisa no bichinho, mas só veio dar o ar da graça. Este sim se assusta. A asa arrancado lhe custa voo, e mesmo com seu exoesqueleto perfurando seus órgãos, ele foge pela vida. Por quê? Visivelmente se encontra em um estágio de dor, por que fugir, por que não apenas aceitar a inevitável morte? Não é ela que lhe poupará da dor?
Mas ele não julga, apenas corre. Será que é mero instinto?
Talvez seja por isso que tememos morrer
mero instinto
Quem para pra pensar nunca acha uma boa
[resposta para continuar vivo
Talvez o ímpeto da vida esteja além da razão
Talvez toda essa massa cinzenta que custa
[tanto não seja tão eficaz assim
"Viver é melhor que sonhar"
Temos realmente tanta escolha assim sobre a vida?
Freud diz que não
Sartre diz que sim
o que nos custou essa vã filosofia?
Sem ela talvez fosse lutar tão
desesperadamente pela vida
como esse inseto
Sem ela talvez não indagasse
sobre o que é felicidade
como esse inseto
Sem ela talvez não relutasse
tanto contra uma navalha
como esse inseto
Sem ela talvez não precisasse
escolher todo o dia viver
como esse inseto?
Na batalha entre o incerto e o provavel, me seduz o já´ testado.
olhe as estrelas, eu não sou nada
que bom
dessa forma meus insignificantes ãos valem alguma coisa
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