terça-feira, 17 de novembro de 2015

O Vigilante Noturno - Parte Final [Contos de Juliette]

                                            [Parte 1  e  Parte 2]

    Ela e o marido saem rapidamente do Departamento, só parando para dizer olá para o Detetive Gordon. Anna fazia questão de lembrar que seguir os novos investidores era loucura, e que nós seriamos mutiladas vivas por Wally. Mesmo protestando, minha parceira manifestante segue cuidadosamente o carro do casal. Eles fizeram 3 paradas no total, anotei cada uma delas por indagar a existência de uma correlação: O Departamento de Polícia (Do momento em que entrei até  sair se passou 1 hora, mas eles poderiam estar lá antes de minha chegada), Torre Wayne (40 minutos) e um restaurante de alta classe recheado com luz LED (Duas horas). Revezamos os turnos de vigia, mesmo assim estávamos cansadas, nossos corpos já reclamavam de exaustão. Mas não posso desistir, o quanto antes terminar o caso, antes a Wally vai perceber que sou boa no que faço, embora o que faço seja desvalorizado. Já faz duas horas, Anna dorme tranquilamente, duas horas. Acordei muito cedo hoje, duas horas. Cansada, duas horas. Não consigo olhar pra essa luz mais, duas horas. Casa, duas horas. Cama, duas horas. Palpebras pesadas, duas... Daqui à pouco eles saem, sim... uma simples s o  n  e   c   .         .            .

   - Juliette! Verdinha! Acorda Porra!!!
   - Ah! Anna? O que aconteceu? Eles ja saíram?!
   - Como vou saber guria! Acabei de me levantar e me deparo com você assim! Dependendo de nós duas eles podem estar lá até agora ou terem saído a muito tempo.
   - Merda! Entrar lá é entregar nossa identidade, eles já devem suspeitar que estão sendo seguidos, só iriamos fazer o favor de esclarecer isso a eles.
   - Bom... tentamos. Vamos para casa, amanhã terminamos o caso.
   - Não! E se eles não aparecerem amanhã! Teríamos que esperar o fim de semana todo para ter outra oportunidade!
   - O que sugere, guria!? Existem outros suspeitos, é só procurar, esses daí vão dar muito trabalho.
 
     Anna está certa, eles são caso perdido. Nunca vamos conseguir rastrear seus passos, até mesmo nos dias em que estamos com toda disposição não conseguiremos. Quero ir pra casa, nós duas queremos, mas se formos iremos perder muito tempo. Não disponho desse luxo... pensa Juliette, pensa. Rosalina iria saber como sair dessa situação... ... ... Já sei!

     -Eureka! Já sei o que vamos fazer! Nós vamos para casa deles, investigar o máximo possível. Se estiverem lá retornamos para casa.
    - Você não pode ser tão ingenua e burra assim, pode?
    - Sei que parece loucura...
    - Parece não, é loucura!!!
    - Mas pode dar certo! É nossa única escolha.
    - Ou seja; você quer invadir a casa de um milionário, sem um mandato, alegando que ele é um vigilante que se veste como morcego. Sendo que na casa dele deve haver no mínimo 7.000 guardas. Querida, já te achava meio estranha pelo cabelo, mas agora tenho certeza que tu é muito louca.
     Revoltada ela liga o carro e parte em direção a Mansão Wayne.

    A mansão é enorme. Ela possui diferentes colorações, todos variando na tonalidade de preto a cinza bem escuro. O portão um pouco enferrujado, mas elétrico, estava aberto. Às câmeras estavam todas desativadas, e não havia nenhum guarda. "Estão nos esperando" Anna refletiu, "Não podemos nós dar ao luxo deles verem nosso rosto, corre lá pro carro e pega dois panos guria. Mas antes, traga minha arma, ela deve estar próxima aos panos" Confirmo com a cabeça e volto para o carro, não preciso procurar muito para achar dois pequenos lenços brancos e uma .45, não indago o motivo deles estarem ali. Chego rapidamente no local onde Anna estava, mas para minha surpresa ela não esta mais na mesma lá.
    Merda. Um mix de cansaço, ódio e medo toma minha mente, não posso ir embora sem Anna, mas é muito arriscado entrar na casa sozinha. Cubro meu rosto com o pano e começo a vasculhar o perímetro da casa. Não encontro nada relevante, apenas uma janela aberta que dá para a cozinha. Tento ligar para Anna mais uma vez, mas estou sem sinal. Respiro fundo e parto em direção a janela. Ela não está muito no alto, se subir naquela lata de lixo consigo chegar... Mesmo com suporte meu braço não alcança a janela, minhas pernas tremem e estão começando a deslizar. Dou um pequeno pulo e alcanço a abertura, mas acabo por derrubar a lata de lixo causando um estardalhaço.
     Se eles não tivessem notado minha presença, agora notaram com certeza. mesmo assim, não posso sair daqui sem minha parceira. Não posso. Ando suavemente pela casa, algumas luzes já estão ligadas o que facilita meu trabalho, mas ainda tive que usar minha lanterna de bolso em certas áreas. Evito os andares superiores por temer encontrar o casal em algum deles, Anna não deve ter saído do térreo. Mas não consigo encontrar Anna em lugar nenhum, meu deus onde ela foi se meter. Não vou subir... Ela nunca iria subir, não há motivo. Ela nem deve estar aqui, ela deve ter visto alguma coisa e ido atrás. Ou ela simplesmente voltou para o carro; isso, voltou para o carro, é melhor eu voltar lá também.
    Com pressa e sem nenhum pouco de cuidado tento sair da casa. mas quando estava cruzando a sala para chegar na cozinha ás luzes caem.

                   Silêncio...         Não consigo ver....
                   Ouço meu coração disparar...    socorro....

      Procuro a arma em meu bolso, mas percebo que ela não esta carregada. Minha mão treme como uma vara, fazendo com que nem consiga recarregar a arma. Saio em busca de Anna, mas toda aquela escuridão só me deixa mais perdida.  Nunca deveria ter ouvido aquela moça, se tivesse simplesmente ignorado ela, eu não estaria aqui. Ouço um barulho a esquerda, viro rapidamente apontando minha arma descarregada; "Parado! Mais um passo e atiro!!". O barulho continua a chegar cada vez mais perto, e mais perto, consigo até ouvir sua respiração ofegante perto de mim. Os passos param em frente a janela, e com a luz da lua consigo ver uma breve silhueta de um morcego.
      É o fim, meu primeiro caso e já consigo ser morta. Se ao menos pudesse saber onde Anna está, ela pode me ajudar, me salvar... O andar de cima! Se Anna está na casa ela está lá, não tenho outra escolha. Ligo minha lanterninha e corro em direção às escadas, o monstro pula em direção ao teto e começa a me seguir por ali. A poucos metros da escada ele pula em cima de mim, me debato inutilmente na tentativa de me libertar. Começo a gritar por socorro, talvez Anna ouvisse e viesse me salvar, ela viria com certeza... tem que vir... por favor.
       O monstro me imobiliza no chão, são meus segundos finais. E assim que tudo acaba? Cadê o filme com os melhores momentos da minha vida? Cadê a luz? Meu anjo? Minhas vitórias? Não consegui nem terminar um caso idiota, o pior é que tinha achado o suspeito. Ninguém nunca vai se lembrar de mim. Rosalina vai continuar sumida, deve ter até esquecido meu nome. Natália nunca vai sabe-lo...
     Tudo o que fiz
                            Tudo que ia fazer
                                                       Tudo que iria mudar
                                                                                       Tudo perdido...
 -Querida cheguei!!!
       Ouço a campainha, alguém abre a porta avisando com um grito. O monstro me solta e acende a luz, levanto minha cara encharcada de lágrimas e vislumbro o meu agressor. Ou melhor a minha agressora. Era uma mulher vestida de morcego, seu traje na verdade nada parecia um morcego, estava mais para uma armadura high-tech preta de coelho. A coisa que mais lembrava um morcego era o simbolo em seu peito.
  - Mas o que diabos está acontecendo aqui!!!
  - Ela estava nos seguindo a horas, deixei-a propositalmente invadir nossa casa para descobrir o que ela queria.
  - Meu deus, querida. Ela só estava cumprido o dever dela! Não precisava fazer a coitada chorar!
  - Eu não estava chorando!
  - Calada, guria! Você deveria ter me esperado. Cacete, só fui checar se havia sinal em algum lugar e você some!
      Lá estava Anna segura, ao lado do Sr.Wayne. Ao meu lado estava a Selina, que agora tirará o capacete e parara de ofegar:
   - Preciso melhorar a abertura dessa coisa. Bom... Imagino que vocês devem ter diversas perguntas, e estou dispostas a responder quase todas.

     Selina nos conta que se tornou vigilante por culpa de um trauma na infância, ela não quis nos dizer qual, mas o Sr.Wayne avisou que era familiar. Depois de treinar diversas artes marciais pelo mundo, ela se fixou em sua cidade natal para combater o crime. Perguntamos por que a do morcego, ela disse que tentou uma vez com gatos mas eles não obedeciam suas ordens, e um sinal enviado por seu pai do além sugeriu usar morcegos:
    -Uma última coisa agentes, não revele minha identidade. Por favor.
    Estava pronta para contestar o pedido, por que o caso era justamente sobre a identidade do vigilante. Não podia entregar o caso sem aquilo. Mas antes que abrisse a boca, Anna falou:
      - É claro que não! Não somos tão ignorantes e egoístas pra revelar seu segredinho pra Wally. Eu invento alguma mentira e entrego o caso.
      - Muito obrigada. Espero e encontrar mais vezes com vocês, esse é o meu contato, usem ele se precisarem de ajuda com algum crime.

         Não falo nada no carro, não pergunto por que ela teria tanto medo de Wally. Não sei se é por estar cansada demais para conversar, ou por temer a resposta. Anna me deixa na frente do meu prédio:
      -Falou, guria. Eu gostei de você, deixa que eu me viro com a papelada. Vai descansar um pouco.
           Agradeço a carona e me despeço dela. Subo rápidamente os degraus, o elevador não funciona mais. Não pulo de euforia por ter terminado um caso, só entro em casa. Digo oi para meu gato preto, não o pego no colo como sempre faço, só o alimento. Não pego um livo pra ler, só deito na cama. Não reflito sobre algum assusnto como sempre faço quando vou dormir, eu só penso... "Como aquela garçonete era bonita."

                                                                  Fim
   
+Leia outros contos de Juliette!
+Nota=   Oi! Só avisando que os contos de Julitte serão divididos em várias partes, o que não facilita a leitura mas traz de volta aquela velha emoção de ler contos policiais no jornal. Por isso fiquem atentos ao Blog, por que daqui a pouco sai mais um conto.

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