quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O Último Filho - Parte Final [Contos de Juliette]

                                                   O Último Filho - Final
                                                 (Parte 2)   (leia a parte 1)

     O trator verde limão parece ter o peso de uma pena nas mãos do menino,  nem se incomodando com o peso, ele já estendia a mão para ajudar o homem. O ato heroíco acaba com um sorriso, um sorriso bobo de quem acabou de salvar o mundo, um sorriso que logo se transforma em pânico quando o garoto percebe nossa presença. Ele coloca o trator no chão abruptamente, e logo dispara na direção do milharal. Ele corre tão rápido que nem consigo ve-lo correr.
      Anna entra numa espécie de estado de choque, enquanto eu ainda nem me toquei sobre o que aconteceu. Uma velhinha sai de dentro de casa com muita pressa, ela se junta ao marido e começa a falar:
       -Acalmem-se queridas. Queiram entrar, meu marido irá preparar um chá para nós.
       Nós ainda estamvams digerindo a cena, por isso seguimos debilmente o casal:
       -Me chamo Martha Kent, e meu marido é Jonathan Kent. Quais são seus nomes queridas?
        -P-Prazer Sr. e Sra. Kent, eu me chamo Julliete de Aurora, e essa é minha parceira Anna Maria.
         -Me chame somente de Martha, querida.
           O casal tenta difarçar, mas estão extremamente nervosos. Ele treme feito uma vara, e ela transpira muito. Ninguém quer tocar no assunto, entretanto é só uma questão de tempo até alguém questionar o ocorrido:
         - Desculpe-me Martha, sei que quando marquei essa entrevista, vocês viram a oportunidade de acabar com toda essa loucura extraterrestre. Mas devido ao que acabamos de testemunhar, temo que seja impossível negar a existência de um super ser nessa casa.
            Anna falou, e um ácido veneno saiu de sua boca. Eles se entreolham, e com os olhares eles traçam um plano, tomam sua decisão:
         -Pois bem minhas queridas. Não vou enrola-las mais, a cena que testemunharam hoje jamais sairá da mente de vocês. Aquele era meu filho Clark, ele é um bom garoto. Ele... Ele foi um presente de Deus, mas sabemos muito bem que o modo com que ele chegou aqui não foi nada divino. Clark é... Diferente. Ele possui certas "habilidades".
           -Ele é um meta-humano.
               Outra fala fatal, Anna está afiada hoje. O casal em pânico se entre olha novamente, Martha se vira para nós. Seu olhar fixa no nosso, e por alguns instantes sinto estar sendo lida como um livro. "Me sigam, por favor". Ela nos leva até a porta da garagem, o estranho era que a camionete da família ficava pra fora dela. Indagando o motivo, observo o casal dar seu último voto de confiança e abrirem o portão. "Cacete". Dentro da garagem há um gigantesco cilindro cinza, um pouco queimado na frente, e com muitas marcas de batidas leves. Na parte superior do cilindo há o brasão de um "S", e logo acima uma pequena janela de vidro. O Sr.Kent puxa uma escada e nos mostra o interior do objeto, lá há um almofadado roxo, pequeno o suficiente para portar apenas um bebê:
             -Clark, minhas queridas. Não pode ser chamado de Meta-Humano, por que ele... ele não é bem um humano.
                                                                      ...
       Passamos horas discutindo com os Kents. Eles são pessoas adoráveis e extremamente gentis. O casal parece ter confiado em nós de peito aberto, respondendo todas as perguntas de Anna. Eu por outro lado só quero falar com o garoto, ele me pareceu muito assustado quando nos viu, e ainda não voltou para casa. O relógio bate sete horas, é melhor nós irmos antes que fique muito escuro:
        -OK Senhores. Eu e minha parceira agradecemos muito a sua participação, mas temos que ir, se chegar tarde em casa sem avisar meu marido me mata.
         -Vocês já vão?! Não, por favor, eu insito que fiquem. Vou cozinhar o prato favorito do Clark agora, tenho certeza que vocês vão amar! E por falar no Clark, já é hora dele voltar. Ele faz isso todo dia. Ele some durante a tarde, e meu marido tem que ir chamá-lo pra jantar. Tentamos de tudo, mas ele se sente muito deslocado aqui.
          Meus ouvidos tinam quando ouço a frase, a oportunidade perfeita. Quase pulando me ofereço a ir buscar o garoto, Anna me taca um olhar de repreensão e não esconde que é contra a ideia. Relutantes o casal deixa eu ir atrás do garoto, eles avisam que o milharal não é muito grande e que se eu seguir o caminho de terra nunca irei me perder.
            Me ofereci não por querer sair da casa, muito pelo contrário, achei todo aquele ambiente muito aconchegante. Mas mesmo assim todo caso é um caso, e quanto mais rápido terminar esse, mais rápido recebo outro. Não vou me dar ao luxo de ficar muito tempo nesse esquadrão, quem sabe consigo ir para um departamento fora da cidade, mais perto lá de casa.
             O menino não toma muito cuidado em se esconder, acho ele assim que entro no milharal. Me aproximo com calma, a Sra.Kent me avisou que seu filho tem super audição, então ele já sabe que estou aqui:
            -Oi. Sou Juliette, você é o Clark certo?
            -O-Olá. Desculpe ter saído correndo hoje a tarde, eu fiquei meio... assustado.
            -Tudo bem. Você não sabia que estavamos ali, qualquer um ia se assustar. Eu e minha parceira ficamos chocadas quando vimos você levantar aquele trator.
               Ele não responde. Está muito nervoso, não sei se é culpa de uma timidez, ou se prefere não falar sobre seus poderes. Sinto muito garoto, só estou fazendo meu trabalho, você vai complementar muito meu relatório:
             -Sua mãe Martha, pediu para chama-lo para o jantar.
            -Desculpa de novo Sra., mas posso pedir para você falar um pouco mais alto.
             -Ah! Eu tava falando baixinho por temer prejudicar sua audição. É que sua mãe falou que você consegue ouvir até batimentos Cardíacos
            -... E-ela falou pra vocês? Sobre... Sobre meus "poderes".
            - Calma, garoto. Nós somos detetives, não fanáticos de algum fã clube.
           Me aproximo lentamente dele, só para sentar ao seu lado e encarar o céu. Tento esbanjar tranquilidade, mostrar que sou confiável, mas se ele realmete pode ouvir meu coração sabe que estou extremamente nervosa:
              - Você deve ser muito corajoso. Ter todos esses poderes, eu iria ficar maluca. Sem poderes já fico pressionada o suficiente.
             O menino corado se contrai, "Merda, me afastei dele. Não fala de pressão de novo Juliette!":
             - Como era? Como era o seu  antigo planeta?
             - Eu... Eu não sei.
             - Você não tem nenhuma foto ou vídeo, algo do tipo.
             - Tenho uma de meus pais. Meus pais de "verdade". Mas só.
             - Isso deve ser um porre heim? Se eu não tivesse uma foto sequer de casa... eu não sei o que faria. Quando me mudei... Parece que eu perdi tudo que havia construido, perdi as amizades, os parentes, a casa. Claro que ainda posso ligar pra eles, mas não é a mesma coisa.
              - Mas... Aquela moça com você, ela não é sua amiga?
              - É. Minha única amiga, o que torna ela a melhor certo?
              - Então por que você fica pensando nas suas antigas amigas? Elas já não ficaram para trás.
              - Por que você fica olhando essa foto de seus antigos pais? Os seus novos te tratam como um filho perdido, eles não são suficientes?
                  Ele se recolhe, a conversa não está muito agradável para ele. Mas não tenho escolha:
              - Olha garoto. Sei como você se sente...
              - Não, você não sabe! Nínguem sabe! Você não sabe como é se sintir excluído, como é ser diferente dos demais. Eu nunca vou ser um deles! Não importa o quanto eu tente, posso salvar a vida deles, posso ajudar eles, e mesmo assim eles criam essas porcarias de clãs pra mim! Eu não pedi por isso!
               Normalmente estaria morrendo de medo, alguém poderoso como um deus perdendo a calma daquele jeito assusta qualquer um.  Mas no momento, eu não pensei nisso. Eu só via nele toda a angústia que guardava dentro de mim, eu via nele um pedaço de mim, um pedaço que quero acalmar. O ataque dele cessa, então ele começa a chorar. Me aproximo e o abraço, soluçando ele diz:
             -E-Eu só quero ir pra casa.
             -Eu também. Eu também.
                                                                        ...
        Jantamos nos Kents, mas saímos logo em seguida contrariando os pedidos da família para ficarmos. No carro Anna puxa minna orelha por tomar uma decisão sem ela, dizendo que somos uma dupla e que agimos juntas:
        -... O.K guria, acho que você já entendeu o recado. Agora precisamos conversar sobre o relatório do caso...
        -Vamos mentir. Dizemos que os Kents não possuem qualquer ligação extraterrestre, e que foram os fã clubes lunáticos que inventaram toda essa história de alienígenas.
         Anna sorri pra mim, ela é minha parceira e vai ficar ao meu lado em qualquer decisão, assim como eu vou ficar do dela. O resto da semana é entediante, terminamos o relatório na terça, e procuramos algumas formas de proibir aqueles lunáticos do fã clube, não conseguimos nada. Sexta-Feira Anna me chamou pra sair, disse que iria parar em casa primeiro, depois decidia. Enquanto me preparava para a terceira temporada de Arquivo X recebo uma mensagem de Anna:
                                                     "E ai. VC vem ou não?"
 Meu dedo gira entorno da tela, começo a digitar um pedido de desculpa, mas paro. Giro o dedo de novo, apago o rascunho da mensagem e a re-escrevo com uma única palavra...                                               "Sim"

                                                                  Fim
+Leia outros contos de Juliette!
-Todo caso tem um início= http://porcocritico.blogspot.com.br/2015/10/todo-caso-tem-um-inicio-contos-da.html
-O Vigilante Noturno= Parte 12 e 3
+Nota=   Oi! Só avisando que os contos de Julitte serão divididos em várias partes, o que não facilita a leitura mas traz de volta aquela velha emoção de ler contos policiais no jornal. Por isso fiquem atentos ao Blog, por que daqui a pouco sai mais um conto.
           

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